FERNANDO DE BARROS E SILVA
SÃO PAULO - "Os mesmos afetos, no homem e na mulher, têm ritmo diferente: por isso o homem e a mulher não cessam de se desentender". Friedrich Nietzsche, autor dessas linhas, não é exatamente um herói do feminismo. Muito do que escreveu a respeito da relação entre os sexos agride a sensibilidade moderna. A imagem de um Nietzsche machista, porém, parece simplista, demasiado simplista, para um pensador tão rico e original.
O filósofo alemão sustenta haver uma diferença intransponível entre homem e mulher. Podemos pensar no orgasmo masculino (fogão elétrico, que acende e apaga num clic) e no feminino (fogão a lenha, que demora a pegar e não apaga mais). "Ritmos diferentes"...
É curioso que o argumento do abismo biológico tenha sido incorporado, sem muita sofisticação, pelo feminismo: "A mulher é soft; o homem é hard. É uma questão biológica. A mulher é obrigada a proteger a vida. O homem é obrigado a buscar comida". São palavras de Rose Marie Muraro, na Folha de ontem. Segundo ela, "o homem pensa primeiro nele e depois nos outros, daí a corrupção. A mulher pensa primeiro nos outros, depois nela". Ah, se fosse simples assim.
Na fase do feminismo encarniçado, quando mulheres queimavam sutiãs para exigir igualdade de condições, a vilã era a "cultura machista", não a "natureza do macho".
Seja como for, também em relação à questão da mulher nossa época trocou a revolução pelo gradualismo. Vivemos hoje uma espécie de pós-feminismo, numa cultura ao mesmo tempo pragmática e resignada, que combina avanços e desilusões. Por um lado, o apelo da emancipação feminina desceu do palanque e se enraíza, aos poucos, em práticas cotidianas, políticas públicas, leis, direitos adquiridos. Por outro, ou apesar disso, há um machismo primordial que resta intacto, como retratam o Carnaval ou os títulos das revistas expostas nas bancas. Natureza ou cultura, de quem será a culpa? -eis a questão.
SÃO PAULO - "Os mesmos afetos, no homem e na mulher, têm ritmo diferente: por isso o homem e a mulher não cessam de se desentender". Friedrich Nietzsche, autor dessas linhas, não é exatamente um herói do feminismo. Muito do que escreveu a respeito da relação entre os sexos agride a sensibilidade moderna. A imagem de um Nietzsche machista, porém, parece simplista, demasiado simplista, para um pensador tão rico e original.
O filósofo alemão sustenta haver uma diferença intransponível entre homem e mulher. Podemos pensar no orgasmo masculino (fogão elétrico, que acende e apaga num clic) e no feminino (fogão a lenha, que demora a pegar e não apaga mais). "Ritmos diferentes"...
É curioso que o argumento do abismo biológico tenha sido incorporado, sem muita sofisticação, pelo feminismo: "A mulher é soft; o homem é hard. É uma questão biológica. A mulher é obrigada a proteger a vida. O homem é obrigado a buscar comida". São palavras de Rose Marie Muraro, na Folha de ontem. Segundo ela, "o homem pensa primeiro nele e depois nos outros, daí a corrupção. A mulher pensa primeiro nos outros, depois nela". Ah, se fosse simples assim.
Na fase do feminismo encarniçado, quando mulheres queimavam sutiãs para exigir igualdade de condições, a vilã era a "cultura machista", não a "natureza do macho".
Seja como for, também em relação à questão da mulher nossa época trocou a revolução pelo gradualismo. Vivemos hoje uma espécie de pós-feminismo, numa cultura ao mesmo tempo pragmática e resignada, que combina avanços e desilusões. Por um lado, o apelo da emancipação feminina desceu do palanque e se enraíza, aos poucos, em práticas cotidianas, políticas públicas, leis, direitos adquiridos. Por outro, ou apesar disso, há um machismo primordial que resta intacto, como retratam o Carnaval ou os títulos das revistas expostas nas bancas. Natureza ou cultura, de quem será a culpa? -eis a questão.