sexta-feira, 8 de julho de 2011

"Não sei como vamos sair disso. A minha esperança é o povo desorganizado, como ocorreu no Oriente", acrescentou Gullar.

08/07/2011 - 14h37

"O Brasil foi apropriado por uma casta", diz Ferreira Gullar

FlipFerreira Gullar, sempre campeão de público em todas as edições da Flip a que compareceu, repetiu o feito: a Casa Folha ficou lotada na manhã desta sexta (8), quando o poeta, 81, tratou das conexões entre poesia e política.

Gullar fez graça logo no começo de seu depoimento ao dizer que não entendia nada do tema, somente dava palpites. "Política é uma coisa muito difícil. Não recomendo a vocês."

Como exemplo, lembrou que a presidente Dilma Roussef está numa "saia justa", após a queda do ministro dos Transportes, porque não pode desagradar aos "40 deputados do partido que o apoiam".

Uma hora e meia depois, após contar vários episódios e ler poemas, o tom de piada foi substituído por outro, mais sério e preocupado: "O Brasil foi apropriado por uma casta, do Congresso ao Senado", disse. Se alguma coisa está acontecendo, argumentou o poeta, é "graças à imprensa, que denuncia".

"Não sei como vamos sair disso. A minha esperança é o povo desorganizado, como ocorreu no Oriente", acrescentou Gullar.

TRAJETÓRIA

O poeta relembrou sua trajetória na poesia e na política: das primeiras experiências de vanguarda até a militância, que o fez passar por prisão, interrogatório e exílio. No início, fez parte do concretismo e, depois, do neoconcretismo. Uma de suas radicalizações artísticas na época foi, segundo ele, o "Poema Enterrado", que fez com Helio Oiticica, na virada da década de 1950 para a de 1960.

Letícia Moreira/Folhapress
O poeta Ferreira Gullar durante conversa na Casa Folha, nesta sexta (8), terceiro dia da Flip, em Paraty
O poeta Ferreira Gullar durante conversa na Casa Folha, nesta sexta (8), terceiro dia da Flip, em Paraty

Como muitos artistas e intelectuais de sua geração, Gullar entrou mais tarde para o Partido Comunista, num tempo em que uma das principais causas era a reforma agrária. Foi quando passou a fazer poemas que hoje considera "extremamente políticos", até começar a se incomodar com o excessivo tom panfletário.

Contou que, na época em que fazia parte do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE, intrigou-se certo dia ao se dar conta de que, nas favelas, os adultos saíam e só as crianças assistiam às peças; nos sindicatos, os diretores ficavam, mas os funcionários não queriam assistir a elas.

"Eu disse para o Vianinha [Oduvaldo Vianna Filho]: 'Estamos pregando comunismo para quem já é comunista? Fazemos mau teatro e má poesia para nada?'."

Pouco depois, ocorreu o golpe de 1964, o CPC fechou, e em seu lugar surgiu o Teatro Opinião, "engajado, mas sem ser panfletário", na definição de Gullar. "Sem abrir mão de nossas ideias, passamos a fazer algo com qualidade e ate audácia artística."

Gullar narrou vários episódios engraçados, outros bastante tensos em sua vida como exilado no Chile e, depois, na Argentina.

No final, falou sobre o célebre "Poema Sujo", espécie de testamento que escreveu em 1976, em Buenos Aires, quando pensou que seria preso a qualquer momento. O poema foi trazido ao Brasil por Vinicius de Morais numa fita gravada por Gullar. Só depois o editor Ênio Silveira, da Civilização Brasileira, o publicou. A repercussão do "Poema Sujo" ajudou Gullar a retornar ao Brasil.

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VIOLÊNCIA

Metrô registra 1º estupro dentro de vagão, em abril 

DO "AGORA" - A Secretaria Estadual da Segurança Pública deu ontem detalhes da primeira ocorrência de estupro de que se tem conhecimento dentro de um vagão metroviário.
O caso ocorreu às 8h20 do dia 19 de abril. O vagão do metrô da linha verde estava cheio e seguia em direção à Vila Madalena, zona oeste.
Um homem colocou uma das mãos embaixo da saia de uma supervisora de compras e vendas, de 26 anos. Depois, ele rasgou a calcinha dela e tocou em suas partes genitais.
Um grupo de passageiros tentou deter o homem, mas ele conseguiu fugir. Policiais investigam o caso. Desde 2009, os crimes de atentado violento ao pudor passaram a ser considerados como estupro.

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cinema

CRÍTICA DOCUMENTÁRIO 

Filme resgata a ainda obscura arte de Itamar Assumpção

MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO 

"Daquele Instante em Diante" é uma oportunidade e tanto para entrar em contato com a música e o jeito de ser de Itamar Assumpção (1949-2003), artista inquieto e multifacetado, cuja obra nunca teve um reconhecimento à altura. 
O filme percorre a trajetória desde os anos da vanguarda paulista, na década de 80, até sua morte, aos 53. Compositor, poeta, intérprete performático, Itamar gravou discos considerados históricos, como "Beleléu" e "Sampa Midnight", e foi parceiro dos artistas Paulo Leminski (1944-1989), Alice Ruiz e Arrigo Barnabé. 
Construiu um estilo musical único. Em Itamar, há ecos de Frank Zappa (1940-1993), James Brown (1933-2006), Bob Marley (1945-1981), Miles Davis (1926-1991), rap, suingue, música atonal. 
O diretor Rogério Velloso se debruçou sobre mais de 160 horas de filmagens e gravações, garimpadas em acervos e arquivos particulares. E conversou com quem conviveu e trabalhou com Itamar. 
Os entrevistados são unânimes ao lembrar da força das performances ao vivo. 
"Cada show era uma guerra", lembra o músico Luiz Tatit. "Ele nunca deixava a peteca cair", completa o guitarrista Luiz Chagas. Com uma indumentária singular que lembra abadás africanos e óculos escuros com as armações mais extravagantes, Itamar fazia de tudo um pouco -música, teatro, dança. A questão trazida pelo filme, que sempre permeou a vida de Itamar, é o pouco reconhecimento recebido pelo enorme talento que tinha. 
Ele viveu duro e nunca soube conduzir sua carreira comercialmente. Os amigos falam em uma personalidade "agridoce", avessa a concessões. "O sucesso batia à sua porta mas ele não abria", lembra o parceiro Paulo Le Petit. "É o ônus da independência", dizia o próprio. 
Alice Ruiz vai mais longe: "Era difícil ser Itamar Assumpção". Mas era uma delícia assisti-lo. E "Daquele Instante em Diante" vale quase um show de Itamar. 

DAQUELE INSTANTE EM DIANTE 

DIREÇÃO Rogério Velloso 
PRODUÇÃO Brasil, 2011 
ONDE exibição gratuita nos cines Espaço Unibanco Augusta, Pompeia e Frei Caneca Unibanco Arteplex 
CLASSIFICAÇÃO 12 anos 
AVALIAÇÃO ótimo 

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