quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Artistas protestam dentro e fora da Rússia

Além de apoio internacional, classe artística local defende o Pussy Riots e promete manifestações em shows

Pavlénski costurou a boca em performance contra censura; cantora Peaches liderou um protesto em Berlim

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MOSCOU

Além do crescente apoio de estrelas como Madonna, Sting, Beastie Boys e Faith No More, uma série de artistas russos tem feito barulho no país pela libertação das três garotas do coletivo feminista de punk rock Pussy Riots.

Os americanos do Antiflag regravaram "Virgem Maria, Mande Putin Embora!", trilha da performance que levou as garotas a julgamento.

Já os russos da banda eletro Bartó fizeram um remake de "Kisia Eres" (heresia de gato), outra canção do Pussy Riot, questionando o regime e a prisão das integrantes.

Gravado em julho deste ano, o tema marcou uma parceria da banda com os rappers do Trash Shapito Kach.

"Tudo é limitado na Rússia já há bastante tempo. Mas isso agora é totalmente inaceitável. Eles [a Igreja e o governo] estão se ferrando para essas meninas presas e julgadas", disse a vocalista do Bartó, Maria Liubitcheva. Há um clipe no YouTube (folha.com/no1137706)

"Se antes o presidente gozava de algum apoio, agora uma parte da população está repensando isso", completa.

Em junho passado, mais de uma centena de atores, cineastas, músicos e escritores assinaram uma carta aberta pedindo a liberdade das jovens.

Na mesma época, a diretora russa Olga Darfi chegou encapuzada ao tapete vermelho do Festival Internacional de Cinema de Moscou, em apoio ao coletivo.

Um dos signatários da carta, Dmítri "Sid" Spirin, vocalista da banda pop-punk Tarakani!, afirma que o julgamento é tão injusto que seria "desonesto" não apoiar a Pussy Riot.

O artista Piotr Pavlénski foi ainda mais radical: costurou a própria boca em protesto e, solitário, se postou na frente da Catedral de Kazan, em São Petersburgo. Para ele, a história do coletivo punk é o maior exemplo da deterioração da liberdade de expressão na Rússia.

"Alguns artistas aceitam essa censura e castram sua própria obra. Eu costurei minha boca para ressaltar o medo do artista diante da censura", disse Pavlénski.

NOVAS MORDAÇAS

O escândalo do Pussy Riots chamou a atenção do mundo para a aprovação de novas leis que podem restringir ainda mais as liberdades individuais na Rússia.

Uma delas, já promulgada em São Petersburgo, prevê penalidades para a "promoção do homossexualismo".

Sem especificar o termo "promoção", a lei é temida por artistas locais, que acreditam que a norma possa ser usada arbitrariamente para reprimir a produção de filmes, livros e arte em geral.

"[A lei] pode, claro, influenciar o trabalho dos profissionais da arte. Essa guerra contra os homossexuais também está relacionada ao ortodoxismo religioso radical que há aqui", explica o defensor dos direitos humanos Lev Ponomariov.

"É simplesmente risível que uma lei como esta seja aprovada no ano de 2012. Eu quero fazer um cover gay do Village People no meu próximo show em São Petesburgo e perguntar, ali do palco, se aquilo foi promoção de homossexualismo", reclama o vocalista do Tarakani!.(MARINA DARMAROS)

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Estado russo é totalitário contra arte, diz ativista

"Não é hora para os refinados, agora o artista deve sair às ruas." A frase é de Aleksei Plutzer-Sarno, 52, líder do Voiná, grupo de artistas de rua responsável por performances anárquicas como simular orgias em museus ou enforcamentos em supermercados. Leia entrevista com Sarno. (MD)

Folha - A censura sobre os artistas-ativistas piorou?
Aleksei Plutzer-Sarno - Sim, na Rússia todo mundo trabalha sob ameaça de prisão, espancamento pela polícia, prisão e morte. A censura é 100%.

Vocês apoiam o Pussy Riot? O que vocês acham do processo criminal contra elas?
Elas sem dúvida são presas políticas. A ação criminal contra elas é totalmente fabricada. Nós devemos ser solidários a elas. O governo tenta destruí-las moral e fisicamente. E, simultaneamente, assustar a todos os artistas de protesto restantes. Mas o Pussy Riot não cometeu nenhum crime. O governo enlouqueceu!

Em São Petersburgo agora existe uma lei contra a "propaganda gay". Você acha que isso pode limitar a arte?
A arte não pode ser limitada, ela simplesmente vai para o porão. Essas leis estão orientadas a destruir os direitos elementares do cidadão, aniquilando as liberdades para as mais diversas minorias, tanto intelectuais como nacionais e sexuais. É uma característica fundamental do totalitarismo.

Que outros instrumentos o Estado usa para limitar a arte?
Todos os meios padrão de um Estado totalitário burro: prisões, espancamentos, tortura, ameaças, interrogatórios, chantagens.
Os policiais quebraram a perna do ativista Filipp Kostenko, espancaram-no quase até a morte. Da nossa ativista Taissia Ossipova, interromperam o envio de medicamentos na prisão. Natália Sokol foi espancada por sete policiais na presença de seu advogado. Arrancaram os cabelos dela.
E algumas vezes eles simplesmente matam as pessoas na prisão, como fizeram com [com o advogado que descobriu um esquema de fraudes na restituição de imposto Serguêi] Magnítski.

Você acredita que a arte do Voiná e do Pussy Riot seria aceita em outros países?
Claro que seria. Arte sincera e forte é aceita em qualquer país, só que ela tem um estilo na Europa, outro na América. Os artistas devem considerar o contexto local, tradições e situação político-social. E temas críticos e de protesto existem em qualquer país.

O que fará o Voiná?
Mudamos as prioridades. As prisões estão cheias de presos políticos. O governo tornou-se totalitário. Estamos há um ano sob investigação federal. Iniciamos protestos de rua para atrair os meios de comunicação de massa. Quando a mídia acompanha o destino dos presos, eles têm chance de sair da prisão russa vivos. "Voiná vai ao resgate" é nosso novo slogan.

Leia íntegra da entrevista
folha.com/no1137674

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