quinta-feira, 16 de setembro de 2010

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AS TRÊS VELHAS

Alice Vergueiro enfrenta com coragem texto de Jodorowski


COMO UMA DECANA DA RADICALIDADE CÊNICA, VERGUEIRO ENCONTROU ALI O NECESSÁRIO PARA UM VOO DE RISCO

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

Um teatro para desconcertar. "As Três Velhas", texto de Alejandro Jodorowski encenado por Maria Alice Vergueiro, provoca perplexidade pelo misto incomum de irreverência burlesca e densidade poética. O espetáculo honra a tradição experimentalista da atriz e diretora.
Hoje com 81 anos e atuando na internet como "psicomago", Jodorowski fundou em 1962, com Fernando Arrabal e Roland Topor, o movimento Pânico, alusão ao deus Pã da mitologia grega.
Propunham combinar terror, humor e simultaneidade.
Notabilizou-se, a partir daí, como escritor de ensaios e HQs, cineasta ("Santa Sangre") e dramaturgo. "As Três Velhas - Um Melodrama Grotesco", sua peça mais recente, é de 2003.
A trama situa duas marquesas gêmeas, octogenárias, e a criada que cuidou delas desde pequenas, uma quase centenária, nos escombros de um castelo.
Invertendo as circunstâncias de "As Criadas", de Jean Genet, aqui quem engendra fábulas macabras são as nobres, cabendo à serviçal trazer os fatos reais à luz. Por trás dos clichês narrativos trabalhados e da pretensão metafísica, há uma estratégia de buscar o sublime a partir das ações mais infames. O resultado é duvidoso pelo próprio insólito das combinações.
Diante desse drama difícil, Maria Alice Vergueiro não se acovardou. Como uma decana da radicalidade cênica, encontrou ali os materiais necessários para um voo de risco: criar uma teatralidade pândega.

ELENCO TALENTOSO
Felizmente, cercou-se da coragem e do talento de dois atores maduros, Luciano Chirolli e Pascoal da Conceição, dispostos a saltos no vazio. E contou, também, com uma equipe de jovens talentosos, capazes de dar uma expressão formal digna àquela estrutura esgarçada.
Os tapetes persas envelhecidos como pano de fundo são a moldura perfeita para a sugestão do texto de um mundo corroído por dentro.
A analogia com nossa época é inevitável, restando, contudo, a suspeita de que, para apontar o apodrecimento da civilização, o autor lance mão de formas dramáticas ultrapassadas.
A língua ferina de Alejandro Jodorowski ainda evoca os fantasmas do velho Alfred Jarry e do surrealismo. Mas, mesmo com esse tom datado, sua poética guarda uma curiosa estranheza.
Diverte com o escândalo e mostra-se edificante por meio do desregramento.

AS TRÊS VELHAS
QUANDO sex. e sáb., às 19h30, dom., às 18h; até 31/10
ONDE Centro Cultural Banco do Brasil - SP (r. Álvares Penteado, 112, tel. 0/xx/11/3113-3651)
QUANTO R$ 15
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom

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"O Estrangeiro" - Camus

Peça busca potência de obra de Camus

Guilherme Leme vive o protagonista de "O Estrangeiro" na primeira montagem do clássico do escritor no Brasil

Espetáculo, que marca a estreia da atriz Vera Holtz na direção, traz solo minimalista sobre o absurdo e a morte

GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Com um sol estilizado sobre a cabeça, Guilherme Leme apresenta pela primeira vez no país o depoimento destituído de emoção de Meursault.
Junto à fatalidade do acaso, a presença do sol é a única explicação para o drama vivido pelo narrador de "O Estrangeiro" (1942), de Albert Camus (1913-1960), condenado não apenas por matar um árabe, mas por sua insensibilidade.
"O sol é um personagem da história. Queria contracenar com ele", diz Leme, que divide a direção com Vera Holtz, estreante no cargo.
Na representação desta que é uma das obras mais famosas da literatura universal, cuja estreia paulista acontece amanhã, o sol é aludido tanto quanto o cárcere.
Este último simboliza o local onde Meursault é enclausurado antes de sua execução. Composto por uma caixa de luz pendurada no teto e um tapete de madeira da mesma medida no piso, o cenário parece oprimi-lo.

SOLO MINIMALISTA
A montagem apresenta Meursault vestindo-se para a morte. Extrai a essência do texto, adaptado pelo dinamarquês Morten Kirkskov, e a potência da palavra do escritor francês. "Contamos a história do jeito mais simples possível", fala Vera.
O solo minimalista retrata com sensibilidade este homem descrito por Camus como Cristo contemporâneo.
"A história deste homem que representa a impotência humana perante o acaso e descobre que só será feliz se aceitar o absurdo é também a do mundo", diz Leme.
Para ele, Meursault é o estrangeiro de todos os tempos: "Quem já não se sentiu estrangeiro e teve vontade de ser fiel a sua verdade até a morte?".
Hoje às 19h, Leme promove um debate sobre a obra de Camus na Livraria Cultura, no Conjunto Nacional. O evento é gratuito.

O ESTRANGEIRO
ONDE Teatro Eva Herz - Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073; tel. 0/xx/11/3170-4059)
QUANDO estreia amanhã; sex. e sáb, às 21h; dom., às 19h
QUANTO de R$ 40 a R$ 50
CLASSIFICAÇÃO 14 anos

DEBATE
ONDE Livraria Cultura
QUANDO hoje, às 19hs
QUANTO grátis

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