quarta-feira, 2 de maio de 2012
Bruno Barreto
'O BRASIL É MORALISTA, É RACISTA'
Eduardo Knapp/Folhapress |
O cineasta Bruno Barreto, em SP |
O diretor Bruno Barreto se prepara para filmar "Flores Raras", em junho. O longa, que se passa nos anos 50 e é estrelado por Glória Pires e uma atriz internacional ainda não confirmada, mostra a história de amor entre a poetisa americana Elizabeth Bishop, ganhadora do Pulitzer, e Lota de Macedo Soares (Glória Pires), arquiteta carioca que idealizou o aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.
A produtora LC Barreto diz que não conseguiu patrocínio para "Flores Raras" porque seu tema central é a relação homossexual entre as duas mulheres. O longa, que é baseado no livro "Flores Raras e Banalíssimas", de Carmen Oliveira, e tem roteiro de Carolina Kotscho, está orçado em R$ 10 milhões. Barreto falou à coluna em seu apartamento, nos Jardins:
Folha - Vocês estão tendo um pouco de dificuldade para captar recursos?
Bruno Barreto - Pouco, não. Total. O Brasil, é um país falsamente, aparentemente liberado. No fundo, é um dos países mais moralistas que existem, é racista. Não conseguimos um tostão de nenhuma empresa. O dinheiro que temos até agora é do Fundo Setorial, do BNDES, de instrumentos estatais, e da Globo Filmes, Telecine e Imagem Filmes.
O que as empresas dizem?
Nós, brasileiros, não somos bons em dizer não, é parte da nossa cultura. Então, as pessoas não dizem um não. Por exemplo, a personagem da Lota terá um carro que aparecerá bastante. Várias montadoras foram procuradas para um "product placement" [espécie de merchandising]. Nenhuma topou.
E quais as justificativas?
Dizem: "Ah, não é o perfil". Até que um diretor de marketing falou pra Paula [Barreto, irmã do diretor e produtora do filme]: "Você está tendo essa dificuldade porque é uma temática gay e realmente não é o perfil da nossa empresa". Aí caiu a ficha. Todas essas grandes empresas que apoiaram vários filmes nossos disseram: "Não, não, não".
O longa mostra muito da história do Rio. O governo fluminense não apoia o projeto?
O prefeito Eduardo Paes abraçou a ideia, assim como a Rio Filmes. O Estado do Rio ainda está em cima do muro. Fomos ao Eike Batista. O projeto fala da Marina da Glória, do aterro do Flamengo [Eike é dono do hotel Glória, no local]. Não tivemos resposta. Temos uma cena da festa de comemoração da vitória de Carlos Lacerda que se passa no hotel Glória.
Vão filmar sem patrocínio?
Sim. Somos loucos. Temos uma linha de crédito num banco grande. Fico triste, porque vivemos um momento ufanista, mas temos que baixar a bola um pouco. Existem problemas estruturais na nossa cultura. A gente não é tão moderno quanto acha.