A reportagem saiu ontem.
Segue transcrita, não consegui reenviar o arquivo que me passaram:
(quem quiser o arquivo, escreva que eu repasso)
saúde e anarquia.
Núcleo de Sociabilidade Libertária - Nu-Sol
http://www.nu-sol.org
REPORTAGEM DA REVISTA VEJA DE 22 DE DEZEMBRO DE 2010 (páginas 110 e 111)
RIQUINHOS SEM CAUSA REVIVEM A ANARQUIA
Os mais agressivos grupos radicais que incendeiam as ruas da Europa
são integrados por vândalos que vivem de mesasa de pais milhonários.
Em meio à multidão de milhares de manisfestantes, rapazes vestidos de
preto e com a cabeça e o rosto cobertos por capuzes, bulaclavas ou
capacetes caminham dispersos, tentando manter-se incógnitos. A atitude
muda quando encontram um alvo: um cordão de isolamento policial, uma
vitrine ou uma agência bancária. Então eles se agrupam e, aramados com
porretes, pedras e garrafas de coquetel molotov, quebram, incendeiam e
agridem. Quando a polícia reage, os vânadalos voltam a se misturar à
massa de gente que protesta pacificamente, na esperança de, com isso,
provocar um tumulto e incitar outros manifestantes e entrar no
confronto. É a tática do 'black bloc' (bloco negro, em inglês), cujo
uso se intensificou nos protestos de rua que dominaram a Europa neste
ano. Quase sempre, a minoria violenta é formada por anarquistas - que,
de seus análogos do início do século XX, imitam os métodos violentos e
o ódio ao capitalismo e aos estado.
Estima-se em 245 o número de grupos anarquistas na Europa. Só nas
últimas duas semanas, essas gangues, que se organizam pela internet e
cruzam fronteiras para participar das pancadarias, causaram tumulto em
trê países no intervalo de seis dias: Inglaterra, no dia 9, Itália, na
terça-feira 14, e Grécia, no dia seguinte. Ao todo, 200 pessoas
ficaram feridas. Os anarquistas não têm reivindicações próprias. Eles
pegam carona em causas alheias. Em Atenas, 23 000 protestaram contra a
aprovação de um pacote de austeridade fiscal, necessário para que a
Grécia continue recebendo o socorro financeiro da União Europeia e o
Fundo Monetário Internacional, que salvaram o país da falência, no
início do ano. No dia anterior, em Roma, a manifestação de 50000
pessoas pedia a deposição do primeiro-ministro Silvio Berlusconi. O
chefe de governo italiano, acusado de abuso de poder e envolvido em
escândalos sexuais, acabou vencendo por apenas três deputados, o voto
de confiança no Parlamento e permanecerá no cargo. Em Londres, 50000
estudantes se reuniram contra o aumento do custo do ensino
universitário. Para os anarquistas, as questões que levaram gregos,
italianos e ingleses à ruas são bobagens sem importância. Eles se
aproveitam dos ingênuos para promover a quebradeira. São os principais
suspeitos de atacar o carro do prícipe Charles, em Londres.
Mas quem são esses formidáveis e destemidos guerreiros urbanos? Errou
quem pensou no sal da terra, em indivíduos miseráveis revoltados e
embrutecidos pela infrutífera luta pela vida nas metrópoles hostis e
indiferentes... Nada disso. Os valentes são playboyzinhos mimados que
vivem de mesadas de seus pais milionários, alguns ícones da
contracultura, seja lá o que isso for. Ou seja, nas ruas incendiadas,
são os únicos sem nada a perder. Um dos vândalos identificados em
Londres é o filho de David Gilmour, milionário guitarrista da
pré-histórica banda de rock Pink Floyd. O valentão chama-se Charlie e
foi fotografado paramentado todo de negro, atirando paralelepípedos na
direção dos policiais. Um idiota sem causa.
"Invadam Atenas, Londres e Roma!" A frase pichada nos muros da capital
grega demonstra que há mais em comum entre os acontecimentos recentes
nas três cidades do que a tática do 'black bloc'. Os anarquistas de
cada país não agem isoladamente. Na semana passada, a Scotland Yard
divulgou a foto de catorze suspeitos de participar dos distúrbios,
entre os quais cidadãos argentinos, alemães, italianos e letões. Eles
repetem um fenômeno ocorrido entre 1999 e 2001, no auge dos protestos
antiglobalização que transformaram as cidades-sede de cada encontro de
chefes de estado em campos de batalha. Já naquela ocasião, eram
anarquistas os responsáveis por incitar a violência policial. O
anarquista ruso Mikhail Bakunin (1814-1876) escreveu: "A paixão pela
destruição é também uma paixão criativa". Por isso, o anarquismo
sempre foi avesso ao jogo político tradicional. O que vale é a ação
direta, violenta, nas ruas. Em 1909, anarquistas espanhóis
aproveitaram protestos populares contra o recrutamento militar para
incendiar igrejas e executar padres, provocando uma reação violenta do
Exército que resultou em 150 mortos. O episódio ficou conhecido como
Semana Trágica. Cem anos depois, a tática está de volta. "Vamos atacar
de novo em janeiro", disse à Veja um mebro do grupo anarquista
Whitechapel, da Inglaterra, que se identifica como Alex McLure. É o
inverno dos anarquistas de butique. Pena que não existam mais tropas
de choque como antigamente.