sexta-feira, 18 de março de 2011

Projeto aprovado prevê R$ 600 mil só para Bethânia

Cachê reservado à cantora representa 44% do total de R$ 1,3 mi que ela poderá captar para fazer seu blog

Remuneração da artista equivale a um salário de R$ 50 mil durante um ano; procurada, ela não quis comentar o caso 

BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO

O orçamento do futuro blog de Maria Bethânia, aprovado pelo Ministério da Cultura, reserva para ela um cachê de R$ 600 mil pela "direção artística" do projeto.
O valor equivale a 44% do total de R$ 1,35 milhão que a cantora foi autorizada a captar em dinheiro de renúncia fiscal, via Lei Rouanet.
Ela informou ontem, por meio de assessoria, que mantém a decisão de não fazer comentários sobre o assunto.
A remuneração está prevista no orçamento que Bethânia entregou à Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, responsável pela escolha dos projetos a serem beneficiados pela lei.
O documento, obtido pela Folha, apresenta a cantora como a única responsável pelas atividades de "direção artística, pesquisa e seleção de textos e atuação em vídeos" do blog de poesia.
Três páginas adiante, uma planilha de custos fixa em R$ 600 mil a remuneração do "diretor artístico" -no caso, a própria cantora.
O orçamento diz que o valor equivale a um salário de R$ 50 mil, a ser pago nos 12 meses de duração do projeto.
O cachê reservado a Bethânia supera os R$ 467 mil que ela planeja gastar com produção, edição e legendagem dos vídeos que ela promete veicular diariamente.
No pedido de verba, a produtora Quitanda Produções Artísticas classifica o blog como revolucionário:
"Em meio a tantos absurdos do mundo moderno, a tantos problemas que cercam a vida de todos, nos propomos a revolucionar a vida cotidiana de cada um."
A captação dos recursos foi autorizada esta semana, como noticiou anteontem a coluna Mônica Bergamo.
Ontem, a reportagem teve acesso a dois pareceres do ministério que embasaram a decisão. O último relata "ajustes orçamentários" na proposta original, que previa captar R$ 1,79 milhão.
A pasta não informou os itens afetados pelo corte de R$ 440 mil. Em nota, afirmou que isso só pode ser checado mediante pedido de vista do processo, em Brasília.
Incluindo o blog, o ministério já autorizou Bethânia a captar R$ 10,5 milhões para seis projetos culturais desde 2006. Por problemas no sistema de acompanhamento virtual da pasta, não era possível saber ontem a quantia que ela chegou a arrecadar.

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Bethânia poderá captar R$ 1,3 mi para blog


Ministério da Cultura confunde leis

Ao explicar aprovação do projeto da cantora Maria Bethânia, pasta toma a Lei Rouanet por Lei do Audiovisual

Nota atribui papel inexistente a comissão de avaliação; Bethânia poderá captar R$ 1,3 mi para blog com vídeos 

ANA PAULA SOUSA
MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO 

Era para ser um esclarecimento simples. Mas virou uma nova confusão.
Ao redigir uma nota para explicar a aprovação de um projeto da cantora Maria Bethânia, o MinC (Ministério da Cultura) acabou por expor uma fragilidade interna que nada tem a ver com as polêmicas que, habitualmente, cercam a renúncia fiscal para projetos da área cultural.
A polêmica começou anteontem, quando a coluna Monica Bergamo, na Folha, noticiou a aprovação da captação de R$ 1,3 milhão para a produção do blog "O Mundo Precisa de Poesia".
A cantora é a protagonista do projeto, que deve incluir 365 vídeos de 60 segundos -um por dia do ano- com coordenação do sociólogo Hermano Vianna e direção de Andrucha Waddington (do longa "Eu Tu Eles").
O assunto entrou rapidamente para a lista dos mais comentados no Twitter.
O ministério, naturalmente, teve de vir a público para se explicar. No início da tarde de anteontem, mandou uma nota por meio de assessoria de comunicação. E foi aí que começou o outro imbróglio.

TROCARAM AS BOLAS
Se, para o cidadão comum, a diferença entre Lei Rouanet e Lei do Audiovisual é tão pouco óbvia quanto qualquer fórmula da física, para qualquer produtor ou gestor cultural, a distinção entre os dois mecanismos de renúncia fiscal é algo imediato, simples. Rotineiro, enfim.
Por isso chamou a atenção o erro cometido anteontem.
Na nota redigida pela assessoria de comunicação do MinC, estava escrito que o projeto de Bethânia, aprovado para captação pela Lei do Audiovisual, havia sido aprovado pela CNIC (Comissão Nacional de Incentivo à Cultura). Acontece que a CNIC só analisa projetos que se utilizam da Lei Rouanet.
A Lei do Audiovisual, diferentemente, voltada ao apoio a obras cinematográficas de produção independente -a Rouanet pode ser utilizada por manifestações culturais de qualquer natureza-, é gerida pela Ancine (Agência Nacional de Cinema).
Questionada pela reportagem da Folha sobre a incongruência, a assessoria de imprensa do MinC levou quase três horas para se manifestar. Redigiram uma "errata" na noite de anteontem.
Procurado novamente pela Folha, o cineasta Andrucha Waddington deixou claro que já tinha perdido a paciência. "Parece que eu tô roubando alguém", afirmou. "É tão patética a discussão que eu não quero mais falar."
O cineasta Jorge Furtado, que criticou o barulho em torno de um projeto absolutamente legítimo, contemporiza a falha. "Eu não distingo, também. O cinema que faço não usa Roaunet, então nem sei como funciona", diz.

RESPOSTA DO MINC
Procurado ontem pela reportagem, o MinC admitiu o "equívoco" e disse ter confundido "o nome do setor de atuação da secretaria com os nomes das leis que viabilizam captação de recursos via renúncia fiscal".

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Protesto acaba em confronto no metrô

250 manifestantes contrários ao aumento da passagem de ônibus trocaram agressões com PMs e seguranças

Estação Anhangabaú foi fechada por 10 minutos durante a pancadaria, que incluiu até bombas de gás lacrimogêneo 

AFONSO BENITES
DE SÃO PAULO 

Pela terceira vez neste ano, terminou em confronto uma manifestação contra o reajuste da tarifa de ônibus na cidade de São Paulo.
A troca de agressões entre manifestantes, policiais e seguranças do Metrô acabou fechando por cerca de dez minutos a estação Anhangabaú, da linha 3-vermelha.
Por duas horas e meia, o 13º protesto organizado por estudantes e sindicalistas foi pacífico. O problema foi quando os cerca de 250 manifestantes, que já tinham bloqueado o tráfego no terminal Bandeira e na avenida Nove de Julho (no centro) por meia hora, decidiram pular as catracas da estação.
Seguranças do Metrô tentaram impedir e bateram com cassetetes nos invasores. A Folha acompanhou toda a movimentação na parte de dentro da estação.
Os manifestantes reagiram atirando pedras e bexigas com tinta, que acertaram seguranças, policiais e usuários. A reportagem presenciou sete manifestantes sendo agredidos.
Quando os policiais militares que estavam do lado de fora perceberam o quebra-quebra, decidiram intervir e jogaram ao menos duas bombas de gás lacrimogêneo dentro da estação.
Jovens, idosos e crianças que estavam no local ficaram com os olhos lacrimejando e dificuldade para respirar.
Usuários que tentavam passar pelas catracas com o Bilhete Único foram barrados pelos seguranças até que a situação se tranquilizasse, o que levou cinco minutos.
Lâmpadas e partes de catracas foram quebradas. Quando os manifestantes foram retirados do local, seguranças e policiais expulsaram fotógrafos e cinegrafistas. Um PM com câmera fotográfica registrou a ação.
Questionada, a PM disse que agiu para estabelecer a ordem. Só hoje a corporação informará quantas pessoas foram detidas e por qual razão disparou bombas de gás lacrimogêneo na estação. O artefato geralmente é utilizado em locais abertos, para dispersar multidões.

SILÊNCIO
A prefeitura não respondeu ao pleito dos manifestantes. Ontem, eles queriam que o prefeito Gilberto Kassab (DEM) se pronunciasse sobre ofícios enviados ao Executivo pedindo que a decisão de aumentar a passagem de ônibus de R$ 2,70 para R$ 3 fosse revista.
O reajuste ocorreu em 5 de janeiro. Desde então, estudantes e militantes da CUT (Central Única dos Trabalhadores), do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e de partidos como PV, PSOL, PSTU, PCO, PC do B e PT fazem os protestos.
Na semana passada, eles queimaram um boneco do prefeito Kassab próximo à casa dele, na zona oeste. Novos protestos estão marcados para a próxima semana.

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