segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Nordestinos ajudam a moldar cotidiano

Hoje é Dia de Gratidão aos Nortistas e Nordestinos 

DO "AGORA" 

Empresários, artistas, chefs de cozinha, operários, executivos. Não importa em que ramo de atividade, os imigrantes nordestinos, ao longo dos anos, assumiram papel de destaque na sociedade paulistana e ajudaram a moldar a cidade como ela é.
Nada mais conveniente, portando, do que comemorar, na data do aniversário de São Paulo, o Dia de Gratidão aos Nortistas e Nordestinos.
Há 45 anos em São Paulo, José Xavier Cortez, 74, é um entre tantos nordestinos que conseguiram se destacar por aqui. Para isso, teve de fazer quase de tudo.
Nascido em Caicó (RN), começou a vida na lavoura de algodão. Ainda jovem entrou para a Marinha, mas foi expulso "por razões políticas".
Quando chegou a São Paulo, na década de 1960, foi trabalhar no estacionamento de um primo, na Sé. Um ano depois já cursava a faculdade de economia, na PUC.
Quase que por acaso, tornou-se livreiro. "Eu conseguia livros que, pela censura, não se podia ter. Isso me deixou famoso na faculdade", relembra. Logo os pedidos se multiplicaram e, em pouco tempo, o lavrador se viu no comando de uma editora, nacionalmente conhecida, a Cortez.
Josefa Adecilda de Araújo Filha também veio de uma família de agricultores. Natural de Barro (CE), cidadezinha de 8.000 habitantes, chegou a São Paulo adolescente, em 1985. "Fiquei encantada quando vi o viaduto do Chá e decidi que não sairia mais daqui."
Trabalhou por mais de uma década como funcionária em lojas de móveis até conseguir dinheiro para abrir seu próprio negócio.
Quando se estabeleceu no mundo das mobílias, mudou de nome. A filha de agricultores Josefa deu lugar à empresária Sylvia Araújo, que hoje comanda uma rede de lojas, com presença constante em feiras no exterior.
A exemplo de Sylvia, João Lellis, 63, também ralou muito como empregado antes de se tornar patrão. Baiano de Bom Jesus da Lapa, chegou a São Paulo em 1964 para tratar um problema de saúde.
Começou a trabalhar como ajudante de cozinha em um restaurante italiano, mesma nacionalidade de seus bisavós. "Vi que a comida era farta e gostosa e já pensei em abrir o meu negócio", diz.
Fundou o primeiro restaurante em 1975. Hoje, tem três: no centro da capital paulista, em Curitiba e em Campinas.
(FERNANDA BARBOSA)

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"os bandeirantes eram mais assassinos do que heróis desbravadores"


Bandeirante era assassino do sertão

DE SÃO PAULO 

Ainda que estradas, avenidas e palácios levem seus nomes, os bandeirantes eram mais assassinos do que heróis desbravadores.
É o que mostram os relatos sobre esses responsáveis pelo frutífero negócio de trazer índios do interior do país para a escravidão no século 17.
Segundo o relato de jesuítas, "na longa caminhada até São Paulo, chegam a cortar braços de uns [índios] para com eles açoitarem aos outros". Mais: "matam os velhos e crianças que não conseguem caminhar, dando de comida aos cachorros".
Nomes como Raposo Tavares, Fernão Dias e Domingos Jorge Velho com frequência apareciam associados à violência e a assassinatos.
Não foi apenas moral a ilusão criada sobre os bandeirantes, porém. Até suas roupas são retratadas de maneira errada. Não usavam, por exemplo, botas, nem que o destino fosse muito longe: o próprio Jorge Velho foi descalço de São Paulo ao Piauí.
A aparência corpulenta e a pele alva das pinturas também não são reais.
"A maioria era filho de branco com índia, com a pele mais escura", diz Manuel Pacheco, da Universidade Federal da Grande Dourados. "A alimentação era restrita. O bandeirante gordo dos quadros é muito improvável."
Esse mito dos bandeirantes foi consolidado após décadas de "marketing".
A imagem heroica foi incentivada com a ascensão dos cafeicultores paulistas à elite econômica do Brasil, no fim do século 19. A partir de 1903, essa orientação foi incorporada à política, e o governo estadual passou a bancar obras de arte que apoiassem essa aura mítica.
Com o passar dos anos, o mito foi sendo incorporado a outros grupos, que queriam se associar a essa imagem de coragem. Entram aí os constitucionalistas de 1932, o governo Vargas e até a ditadura militar. (RM, SR e GM)

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Mário de Andrade reabre hoje com festa

Biblioteca fundada em 1925 estava fechada para reforma desde 2007

Instituição possui o segundo maior acervo do país, com 3,3 milhões de itens como livros, mapas e periódicos 

Mateus Bruxel/Folhapress
Entrada para o saguão principal da Biblioteca Mário de Andrade 

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO 

Quando chegarem à sala de atualidades, onde acontecerá a reinauguração da Biblioteca Mário de Andrade na tarde de hoje, os convidados serão recebidos pelo semissorriso do poeta modernista que criou as bases da política pública de cultura da cidade de São Paulo. 
O retrato do poeta Mário de Andrade (1893-1945) que está pregado na entrada da sala de chão brilhante e janelas com vista para a praça Dom José Gaspar tem sentidos que ultrapassam os da mera homenagem. 
Andrade foi, ao lado do crítico literário Sérgio Milliet (1898-1966) e do poeta Paulo Duarte (1899-1984), um dos idealizadores do Departamento de Cultura de São Paulo, criado em 1935. 
Foi essa instituição que, ao definir os livros como um dos eixos de sua atuação, transformou a biblioteca paulistana nesse raro bem que a cidade terá agora de volta. 
Após anos de goteiras, cupins e descaso, o segundo maior abrigo de livros do país -só atrás da Biblioteca Nacional, no Rio - renascerá com 3,3 milhões de itens. 
O prédio, inaugurado em 1943, foi fechado para uma ampla reforma em 2007. 
A biblioteca circulante, que passara anos "vivendo de favor" em outros endereços, havia sido reaberta em julho de 2010. Mas foi guardada para hoje a festa com pompa, autoridades e shows. 

FICHÁRIOS
Na última sexta-feira, era grande o corre-corre para que nada ficasse fora do lugar. Havia de tudo no prédio: de andaimes e furadeiras a tesouras para recortar os papelinhos que ordenam os velhos fichários de A a Z. 
Apesar de inadequado ao silêncio que se espera de uma biblioteca, o burburinho pré-festa não parecia perturbar os visitantes, que, desde julho, circulam por um dos espaços do vasto edifício. 
A biblioteca circulante está aberta a quem deseja folhear periódicos ou pegar emprestado algum dos 42 mil títulos disponíveis. 
Na última sexta-feira, na larga mesa de madeira renovada depois do restauro, "O Livro de Areia", de Jorge Luis Borges (1899-1986), descansava sozinho, enquanto, ao seu lado, um volume sobre neurociência cognitiva era devorado por um jovem. 
Já o mezanino, com vista para a rua da Consolação, se mostrava um refúgio perfeito para quem, à espera da chuva que as nuvens anunciavam, buscava "um minuto de paz", como descreveu a leitora que folheava um atlas. 

CLASSIFICADOS
A diretora da Mário de Andrade, Maria Christina Barbosa de Almeida, diz que a biblioteca circulante tem recebido, diariamente, cerca de 700 pessoas. 
"Estamos conquistando, além dos leitores habituais, um público de pequenos comerciantes da região", diz. 
Para atrair os novos frequentadores, a biblioteca oferece, por exemplo, títulos sobre marketing e administração de empresas. Outra estratégia é abrir as portas às 8h30. "Assim, quem entra às 9h no emprego tem tempo de dar uma passadinha por aqui antes", explica ela. 
De acordo com Almeida, às segundas-feiras, quando o Centro Cultural São Paulo está fechado, o movimento é maior: "Vem muita gente ler o jornal do final de semana para procurar emprego". 
Agora, será possível, após ler o jornal, cruzar a biblioteca circulante e pisar no mármore da entrada principal. Ali, a estátua "A Leitura", de Caetano Fraccaroli, impassível, reitera o sonho modernista de Mário de Andrade. 

REINAUGURAÇÃO DA MÁRIO DE ANDRADE 

QUANDO hoje, a partir das 11h, com shows na praça Dom José Gaspar; às 15h, cerimônia oficial 
ONDE r. da Consolação, 94, tel. 0/xx/11/ 3814-4832 
QUANTO grátis
FUNCIONAMENTO de segunda a sexta, das 8h30 às 20h30; sábados, das 10h às 17h

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