Caminhada começa às 17h na esquina da rua Augusta com a Paulista e termina no largo do Arouche, no centro
Evento comemora dia Internacional de Luta Contra a Homofobia e antecede tradicional e badalada Parada Gay
LILO BARROSCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA
CAROLINA LEAL
DE SÃO PAULO
Yuri tinha 12 anos. Estudava em uma escola particular na zona leste de São Paulo. Durante as aulas de francês, o professor escrevia na lousa a palavra "bambi". Depois voltava os olhos para Yuri, ria muito e incentivava que as outras crianças também rissem.
"Ele ainda chora com essa lembrança", conta a mãe de Yuri, Clarice Pires, 60. A empresária é uma das mães de gays que irão se reunir hoje, a partir das 17h, na esquina da avenida Paulista com a rua Augusta, para depois "marchar" em direção ao largo do Arouche (centro de São Paulo).
Ela vai participar da caminhada em comemoração ao Dia Internacional de Luta Contra a Homofobia, organizada pelo governo do Estado e pela Prefeitura de São Paulo.
"Essa ação é para mostrar que não dá mais para que pessoas sejam agredidas ou até mesmo mortas por causa da orientação sexual", diz Heloí-sa Gama, da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania.
No mês que vem, outro evento deve movimentar a comunidade LGBT -a tradicional Parada Gay, no dia 10, com o tema "Homofobia Tem Cura: Educação e Criminalização!".
MÃES UNIDAS
Clarice diz que a história das aulas de francês ainda está entalada na garganta do filho. Yuri é homossexual assumido, tem hoje 34 anos e trabalha em uma empresa em Nova York. Ela conta que sempre respeitou o filho. "Minha preocupação era com os outros."
Reação diferente teve a professora aposentada Edith Modesto, 73. Em 1992, quando a mãe de sete filhos descobriu que o caçula Marcello, 32, era gay, perdeu o chão. "Eu caí dura. Levei uma paulada."
Apesar da crise, o amor de mãe foi maior. Cinco anos depois, Edith fundou o Grupo de Pais de Homossexuais (GPH), para ajudar outras famílias.
"Quando o filho sai do armário, é a mãe que entra", brinca Edith, que promete ir hoje à passeata na Augusta.
A aposentada Neusa Dutra, 61, que precisou de ajuda para aceitar o filho gay Chico, 29, também. No começo, foi difícil. "Depois de um tempo caiu a ficha. Vi que quem precisava de tratamento era eu, não ele."