Áreas desmatadas estariam condenadas a perder cerca de 10% de seus
mamíferos nas próximas cinco décadas Atual queda do desmate pode minimizar essa tendência, desde que novo
Código Florestal não estimule derrubada RAFAEL GARCIA
DE WASHINGTON
O desaparecimento de alguns animais na Amazônia é algo que passa quase
despercebido hoje, mas esse é um fenômeno que deve se tornar cinco
vezes maior. "Cenários realistas sobre desmatamento sugerem que, em 2050, certas
regiões terão perdido, em média, nove espécies de vertebrados,
condenando outras 16 à extinção", diz uma nova pesquisa. Apesar de a floresta já ter pedido, como um todo, 17% de seu
território, cada pequeno pedaço de terra na região perdeu em média
apenas 1% das espécies de aves, anfíbios e mamíferos que possuía. Um trio de ecólogos do Imperial College de Londres explica agora por
que isso ocorre: a maioria das áreas está "devendo" em média 5% de
extinções para o futuro, e a situação pode piorar. Em estudo na revista "Nature", os cientistas explicam que essa "dívida
de extinções" ocorre porque alguns animais conseguem evitar o sumiço
logo de cara. Conforme o tempo passa em uma área parcialmente
desmatada, porém, grupos de aves, mamíferos e anfíbios vão diminuindo
a cada geração. No final, alguns somem. O trabalho publicado agora, liderado pelo ecólogo Robert Ewers,
calcula quantas espécies são perdidas no curto e longo prazo. No
estudo, os autores tratam apenas de fenômenos locais, analisando o que
aconteceria em uma área de 2.500 km2 na Amazônia. As previsões sobre
extinções totais, porém, já começaram a ser feitas. MAIS DE CEM "Nós rodamos o modelo tentando prever extinções globais e, no cenário
'business as usual' [em que o ritmo de desmatamento segue quase sem
controle da lei], terminamos com algo em torno de 45 espécies sendo
extintas e mais de cem sendo condenadas à extinção", disse Ewers à
Folha. Em um artigo comentando o estudo de Ewers, Thiago Rangel, ecólogo da
Universidade Federal de Goiás, elogia o método estatístico criado
pelos britânicos para medir o perigo do desmatamento para a
biodiversidade. "Antigamente a gente olhava para o mapa da Amazônia e via apenas quais
regiões estão mais desmatadas e quais estão sofrendo desmatamento
naquele momento", afirma. "Agora é possível enxergar uma medida
combinada de desmatamento e de riqueza de espécies." Segundo Rangel, porém, os cenários de desmatamento com que Ewers
trabalha podem ser comprometidos no futuro. Um problema é o estado de
indefinição do novo Código Florestal -a lei que determina quantas e
quais partes da mata os fazendeiros podem desmatar. O outro é o movimento para reduzir áreas de conservação para acomodar
hidrelétricas. No fim, pode ser que o cenário considerado mais
realista pelos britânicos passe a ser otimista demais. Rangel também destaca que é difícil prever quando a "dívida de
extinção" de uma área parcialmente desmatada vence. "Uma espécie de
anfíbio vai ser afetada em cinco gerações, o que dá uns três anos",
diz. "Já um mamífero de grande porte, com maior capacidade de
locomoção, pode resistir por até 50 anos." Apesar das limitações, Ewers defende que o conceito que criou seja
usado para planejar ações de conservação, incluindo a preservação de
mata que cresce em fazendas abandonadas na Amazônia, por exemplo.
mamíferos nas próximas cinco décadas Atual queda do desmate pode minimizar essa tendência, desde que novo
Código Florestal não estimule derrubada RAFAEL GARCIA
DE WASHINGTON
O desaparecimento de alguns animais na Amazônia é algo que passa quase
despercebido hoje, mas esse é um fenômeno que deve se tornar cinco
vezes maior. "Cenários realistas sobre desmatamento sugerem que, em 2050, certas
regiões terão perdido, em média, nove espécies de vertebrados,
condenando outras 16 à extinção", diz uma nova pesquisa. Apesar de a floresta já ter pedido, como um todo, 17% de seu
território, cada pequeno pedaço de terra na região perdeu em média
apenas 1% das espécies de aves, anfíbios e mamíferos que possuía. Um trio de ecólogos do Imperial College de Londres explica agora por
que isso ocorre: a maioria das áreas está "devendo" em média 5% de
extinções para o futuro, e a situação pode piorar. Em estudo na revista "Nature", os cientistas explicam que essa "dívida
de extinções" ocorre porque alguns animais conseguem evitar o sumiço
logo de cara. Conforme o tempo passa em uma área parcialmente
desmatada, porém, grupos de aves, mamíferos e anfíbios vão diminuindo
a cada geração. No final, alguns somem. O trabalho publicado agora, liderado pelo ecólogo Robert Ewers,
calcula quantas espécies são perdidas no curto e longo prazo. No
estudo, os autores tratam apenas de fenômenos locais, analisando o que
aconteceria em uma área de 2.500 km2 na Amazônia. As previsões sobre
extinções totais, porém, já começaram a ser feitas. MAIS DE CEM "Nós rodamos o modelo tentando prever extinções globais e, no cenário
'business as usual' [em que o ritmo de desmatamento segue quase sem
controle da lei], terminamos com algo em torno de 45 espécies sendo
extintas e mais de cem sendo condenadas à extinção", disse Ewers à
Folha. Em um artigo comentando o estudo de Ewers, Thiago Rangel, ecólogo da
Universidade Federal de Goiás, elogia o método estatístico criado
pelos britânicos para medir o perigo do desmatamento para a
biodiversidade. "Antigamente a gente olhava para o mapa da Amazônia e via apenas quais
regiões estão mais desmatadas e quais estão sofrendo desmatamento
naquele momento", afirma. "Agora é possível enxergar uma medida
combinada de desmatamento e de riqueza de espécies." Segundo Rangel, porém, os cenários de desmatamento com que Ewers
trabalha podem ser comprometidos no futuro. Um problema é o estado de
indefinição do novo Código Florestal -a lei que determina quantas e
quais partes da mata os fazendeiros podem desmatar. O outro é o movimento para reduzir áreas de conservação para acomodar
hidrelétricas. No fim, pode ser que o cenário considerado mais
realista pelos britânicos passe a ser otimista demais. Rangel também destaca que é difícil prever quando a "dívida de
extinção" de uma área parcialmente desmatada vence. "Uma espécie de
anfíbio vai ser afetada em cinco gerações, o que dá uns três anos",
diz. "Já um mamífero de grande porte, com maior capacidade de
locomoção, pode resistir por até 50 anos." Apesar das limitações, Ewers defende que o conceito que criou seja
usado para planejar ações de conservação, incluindo a preservação de
mata que cresce em fazendas abandonadas na Amazônia, por exemplo.