Aos 86, cantora faz hoje especial na TV Cultura, ao lado de orquestra Apresentadora de "Viola, Minha Viola" defende música de raiz tradicional e critica o sertanejo moderno MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO Toda quarta-feira, centenas de homens e mulheres de idade avançada se reúnem à tarde no 451 da avenida Tiradentes, em São Paulo, mais precisamente no auditório do teatro Franco Zampari, onde é gravado o "Viola, Minha Viola", da TV Cultura.
Para eles, a paulistana da Barra Funda Ignez Magdalena Aranha de Lima representa mais ou menos o mesmo que Madonna nas hostes fashionistas. Uma diva.
No caso de Ignez, ou Inezita Barroso, como é conhecida, uma diva caipira. Aos 86 anos, ela está completando 60 de carreira. Metade deles apresentando o programa musical mais antigo da TV brasileira e que proporciona a maior audiência da emissora estatal paulista (de 3 a 4 pontos no Ibope).
Para comemorar a data, a Cultura exibe hoje às 9h, com reprise no próximo sábado, às 20h, uma versão especial do programa. Como nos bons tempos da era do rádio, Inezita aparece acompanhada de 27 músicos de orquestra, cantando alguns clássicos de sua carreira, como "Flor do Cafezal", "Meu Limão, Meu Limoeiro" e "Lampião de Gás". VODCA, NÃO
Para sempre Inezita será associada à música de raiz nascida nos rincões do Sudeste e do Centro-Oeste do país -Paraná, Mato Grosso, Goiás e principalmente Minas Gerais e São Paulo-, a que se dedica desde criança.
Isso num meio predominantemente machista, carola e pinguço. Ela nunca foi de beber, mas não dispensa a caipirinha de sábado. "Sem vodca, pois não sou russa."
Movimentando-se com um andador, em razão de um tombo recente, coberta de maquiagem e extremamente lúcida, ela diz: "A cultura caipira está dentro de cada um de nós. E é fantástica. Antigamente havia um preconceito, mas hoje todo mundo sabe que não precisa ser acadêmico para ser poeta".
"Viola" é um programa sem concessões que faz contraponto ao "sertanejo universitário" -micaretas, axé e baladas pop. Um gênero comercial que apenas de longe remete às origens rurais.
A ideia do programa é apresentar a velha geração de violeiros ainda em forma e os poucos expoentes da nova geração (uma das tendências atuais enche Inezita de orgulho: as violeiras, contrariando o machismo do meio). CAIXA DE CDS
De acordo com Aluísio Milani, roteirista do programa, "para honrar e reverenciar Inezita todos tocam só o que ela gosta -e sabem do que ela não gosta". E do que ela não gosta? "Pergunte o que ela acha do Luan Santana."
No "Viola", instrumentos eletrificados, à exceção do baixo, não entram. "Nossa base é a viola, o violão e a sanfona. A música caipira se afasta cada vez mais da raiz, e isso é muito ruim. É sempre assim: onde entra o dinheiro, sai a cultura", diz Inezita. "O tecladinho pode ser bom para dançar, mas para mim é um realejo deitado, um instrumento sem alma. Qualquer coisa que altere os ritmos da música de raiz é ruim.
Mas a pior coisa que eu já vi foi um trio elétrico invadindo uma procissão da Festa do Divino, em Mogi das Cruzes [interior de São Paulo]".
E conclui: "A boa música é feita de ritmo, história, boa poesia e comunicação com o público. O mundo mudou muito, mas a cultura caipira nunca vai morrer".
Uma biografia de Inezita ainda não foi escrita. Mas em março o jornalista Assis Angelo lançou "A Menina Inezita Barroso" (Cortez Editora), livro sobre a infância e a adolescência dela, ilustrado com xilogravuras, para o público infantojuvenil.
Completando o ciclo de comemorações, a gravadora Microservice deve lançar dentro de dois meses uma luxuosa caixa contendo seis CDs, com músicas selecionadas pelo produtor e pesquisador Rodrigo Faour.
Intitulada "O Brasil de Inezita Barroso", recupera pérolas da música regional, de folclore e sertaneja interpretadas por Inezita entre os anos de 55 e 61. "Ela é pioneira nesse repertório e as gravações originais são de ótima qualidade", diz Faour. "É um luxo tê-la na ativa."
DE SÃO PAULO Toda quarta-feira, centenas de homens e mulheres de idade avançada se reúnem à tarde no 451 da avenida Tiradentes, em São Paulo, mais precisamente no auditório do teatro Franco Zampari, onde é gravado o "Viola, Minha Viola", da TV Cultura.
Para eles, a paulistana da Barra Funda Ignez Magdalena Aranha de Lima representa mais ou menos o mesmo que Madonna nas hostes fashionistas. Uma diva.
No caso de Ignez, ou Inezita Barroso, como é conhecida, uma diva caipira. Aos 86 anos, ela está completando 60 de carreira. Metade deles apresentando o programa musical mais antigo da TV brasileira e que proporciona a maior audiência da emissora estatal paulista (de 3 a 4 pontos no Ibope).
Para comemorar a data, a Cultura exibe hoje às 9h, com reprise no próximo sábado, às 20h, uma versão especial do programa. Como nos bons tempos da era do rádio, Inezita aparece acompanhada de 27 músicos de orquestra, cantando alguns clássicos de sua carreira, como "Flor do Cafezal", "Meu Limão, Meu Limoeiro" e "Lampião de Gás". VODCA, NÃO
Para sempre Inezita será associada à música de raiz nascida nos rincões do Sudeste e do Centro-Oeste do país -Paraná, Mato Grosso, Goiás e principalmente Minas Gerais e São Paulo-, a que se dedica desde criança.
Isso num meio predominantemente machista, carola e pinguço. Ela nunca foi de beber, mas não dispensa a caipirinha de sábado. "Sem vodca, pois não sou russa."
Movimentando-se com um andador, em razão de um tombo recente, coberta de maquiagem e extremamente lúcida, ela diz: "A cultura caipira está dentro de cada um de nós. E é fantástica. Antigamente havia um preconceito, mas hoje todo mundo sabe que não precisa ser acadêmico para ser poeta".
"Viola" é um programa sem concessões que faz contraponto ao "sertanejo universitário" -micaretas, axé e baladas pop. Um gênero comercial que apenas de longe remete às origens rurais.
A ideia do programa é apresentar a velha geração de violeiros ainda em forma e os poucos expoentes da nova geração (uma das tendências atuais enche Inezita de orgulho: as violeiras, contrariando o machismo do meio). CAIXA DE CDS
De acordo com Aluísio Milani, roteirista do programa, "para honrar e reverenciar Inezita todos tocam só o que ela gosta -e sabem do que ela não gosta". E do que ela não gosta? "Pergunte o que ela acha do Luan Santana."
No "Viola", instrumentos eletrificados, à exceção do baixo, não entram. "Nossa base é a viola, o violão e a sanfona. A música caipira se afasta cada vez mais da raiz, e isso é muito ruim. É sempre assim: onde entra o dinheiro, sai a cultura", diz Inezita. "O tecladinho pode ser bom para dançar, mas para mim é um realejo deitado, um instrumento sem alma. Qualquer coisa que altere os ritmos da música de raiz é ruim.
Mas a pior coisa que eu já vi foi um trio elétrico invadindo uma procissão da Festa do Divino, em Mogi das Cruzes [interior de São Paulo]".
E conclui: "A boa música é feita de ritmo, história, boa poesia e comunicação com o público. O mundo mudou muito, mas a cultura caipira nunca vai morrer".
Uma biografia de Inezita ainda não foi escrita. Mas em março o jornalista Assis Angelo lançou "A Menina Inezita Barroso" (Cortez Editora), livro sobre a infância e a adolescência dela, ilustrado com xilogravuras, para o público infantojuvenil.
Completando o ciclo de comemorações, a gravadora Microservice deve lançar dentro de dois meses uma luxuosa caixa contendo seis CDs, com músicas selecionadas pelo produtor e pesquisador Rodrigo Faour.
Intitulada "O Brasil de Inezita Barroso", recupera pérolas da música regional, de folclore e sertaneja interpretadas por Inezita entre os anos de 55 e 61. "Ela é pioneira nesse repertório e as gravações originais são de ótima qualidade", diz Faour. "É um luxo tê-la na ativa."