"Não é hora para os refinados, agora o artista deve sair às ruas." A frase é de Aleksei Plutzer-Sarno, 52, líder do Voiná, grupo de artistas de rua responsável por performances anárquicas como simular orgias em museus ou enforcamentos em supermercados. Leia entrevista com Sarno. (MD)
Folha - A censura sobre os artistas-ativistas piorou?
Aleksei Plutzer-Sarno - Sim, na Rússia todo mundo trabalha sob ameaça de prisão, espancamento pela polícia, prisão e morte. A censura é 100%.
Vocês apoiam o Pussy Riot? O que vocês acham do processo criminal contra elas?
Elas sem dúvida são presas políticas. A ação criminal contra elas é totalmente fabricada. Nós devemos ser solidários a elas. O governo tenta destruí-las moral e fisicamente. E, simultaneamente, assustar a todos os artistas de protesto restantes. Mas o Pussy Riot não cometeu nenhum crime. O governo enlouqueceu!
Em São Petersburgo agora existe uma lei contra a "propaganda gay". Você acha que isso pode limitar a arte?
A arte não pode ser limitada, ela simplesmente vai para o porão. Essas leis estão orientadas a destruir os direitos elementares do cidadão, aniquilando as liberdades para as mais diversas minorias, tanto intelectuais como nacionais e sexuais. É uma característica fundamental do totalitarismo.
Que outros instrumentos o Estado usa para limitar a arte?
Todos os meios padrão de um Estado totalitário burro: prisões, espancamentos, tortura, ameaças, interrogatórios, chantagens.
Os policiais quebraram a perna do ativista Filipp Kostenko, espancaram-no quase até a morte. Da nossa ativista Taissia Ossipova, interromperam o envio de medicamentos na prisão. Natália Sokol foi espancada por sete policiais na presença de seu advogado. Arrancaram os cabelos dela.
E algumas vezes eles simplesmente matam as pessoas na prisão, como fizeram com [com o advogado que descobriu um esquema de fraudes na restituição de imposto Serguêi] Magnítski.
Você acredita que a arte do Voiná e do Pussy Riot seria aceita em outros países?
Claro que seria. Arte sincera e forte é aceita em qualquer país, só que ela tem um estilo na Europa, outro na América. Os artistas devem considerar o contexto local, tradições e situação político-social. E temas críticos e de protesto existem em qualquer país.
O que fará o Voiná?
Mudamos as prioridades. As prisões estão cheias de presos políticos. O governo tornou-se totalitário. Estamos há um ano sob investigação federal. Iniciamos protestos de rua para atrair os meios de comunicação de massa. Quando a mídia acompanha o destino dos presos, eles têm chance de sair da prisão russa vivos. "Voiná vai ao resgate" é nosso novo slogan.
Leia íntegra da entrevista
folha.com/no1137674