quarta-feira, 28 de março de 2012

Cineclube Terra Livre – 25/03 – Louise Michel

No próximo domingo, dia 25, ocorrerá a primeira sessão do Cineclube Terra Livre. Neste semestre o Cineclube retoma suas atividades com a mostra de filmes “Anarquistas”, com filmes biográficos sobre anarquistas históricos. As exibições ocorrerão no Centro de Cultura Social de São Paulo, espaço anarquista histórico de memória e difusão do anarquismo no Brasil. Para a primeira sessão da mostra exibiremos o filme Louise Michel, a rebelde, por ocasião da celebração do dia internacional das mulheres (08/03) e do início da Comuna de Paris (18/03), a 141 atrás.


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segunda-feira, 26 de março de 2012

BAIXOCENTRO

PASSOS PARA A DANÇA
É importante lembrar que qualquer tipo de manifestação pública não é contra nenhuma lei. Pelo contrário. As autoridades apenas pedem que sejam notificadas para evitar problemas. Problemas. Por isso é muito importante que você colabore, justamente para mostrar que nós, cidadãos, estamos aptos a reocupar os espaços públicos e organizar os eventos culturais que gostaríamos de ver.
Indicações:
- As ruas são para dançar. Isso significa que devemos sempre estar em movimento enquanto nas ruas. Qualquer bloqueio que fizermos poderá ser considerado como infração. Dance sempre na calçada. E sempre dance. Nós só podemos ficar parados em locais públicos, como praças, e não em frente a estabelecimentos comerciais, por exemplo – e por enquanto.
- Nós temos liberdade prevista em constituição: de reunião e de associação (Constituição Federal (CF), art. 5º, XVI); de manifestação do pensamento (CF, art. 5º, IV); de consciência e de crença (CF, art. 5º, VI); de expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação (CF, art. 5º, IX); e de locomoção no território nacional (CF, art. 5º, XV). E essa liberdade de ir e vir contempla o direito de permanecer em praças e outros locais públicos.
- Documente. Qualquer ação policial que vá contra os itens da Constituição é ilegal. Nós, como cidadãos organizados e conscientes, devemos documentar os desrespeitos e denunciá-los. Compartilhe os registros com a hashtag #baixocentro para entrar em nosso muro colaborativo:http://muro.baixocentro.org/ .
- Identificação. Não somos obrigados por nenhuma lei a portar um documento de identidade. Se algum policial te abordar e te pedir a identidade, fique calmo! Você não precisa entregar e, se o fizer, ele não pode reter o documento. E lembre-se: ele não pode te prender por não estar identificado! Mas pode pedir o nome do seu pai, sua mãe e sua data de nascimento e te encaminhar à delegacia para assinar um “termo de comparecimento”. E sempre, mas sempre, peça a identificação do policial que te abordar.
- Seja pacífico. Embora os ânimos possam estar um tanto quanto exaltados, mantenha a calma. Resistência a algumas ordens policiais pode ser considerada “crime de resistência”. Responder bravo ou xingar um policial é cana na certa. Conversar com um policial é uma oportunidade de entender tudo isso que está escrito aqui. Converse. E dance!
- Abuso de autoridade. O policial não pode infringir os direitos e garantias individuais, como a “liberdade de locomoção”, o “direito de reunião” e o de “livre manifestação do pensamento”. Ele te abordar e falar um pouco mais ríspido, em vários casos, NÃO se enquadram como isso. Mas ele proibir qualquer atividade por apenas querer, isso sim. Peça sempre (e gentilmente) que ele justifique toda e qualquer ordem. E, lembre-se, documente!

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Minhocão recebe cerca de mil pessoas em balada 'moderna'

VANESSA CORREA

DE SÃO PAULO

Cerca de mil pessoas dançaram e pularam ontem em cima do Minhocão, em uma das festas do festival BaixoCentro, que começou neste final de semana em São Paulo.

O evento agradou quem vive na região e teve até quem veio de outras cidades só para a festa. "O centro fica muito vazio. Quem vive aqui precisa disso", disse o produtor Leonardo Moreira, 37.

Alguns paulistanos não acostumados com o "baixo centro", nas proximidades do Minhocão e da cracolândia, estavam preocupados com a hora de ir embora.

"Acho que vamos sair antes do final. À noite fica mais perigoso", disse a estudante Patrícia Ogando, 23.

O festival foi organizado por um grupo de produtores interessados, segundo eles próprios, em dar novo significado à degradada região do Minhocão.

"É um movimento de ocupação civil que pretende disputar as ruas", afirmam eles, no site do evento.

O festival vai até domingo com uma programação variada que incluiu festas e sessões de cinema. Mais informações nobaixocentro.org.

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sexta-feira, 23 de março de 2012

Curtas sob o Minhocão abrem programação do 1º BaixoCentro

Evento terá 110 atrações artísticas grátis na região, de hoje a 1º/4

IURI DE CASTRO TÔRRES
DE SÃO PAULO

As ruas são para dançar. E para assistir a filmes, praticar ioga, fazer arte. É esse o mote do BaixoCentro, festival que começa hoje, às 20h30, com o evento de curtas Cinoia e ocupa por dez dias avenidas e praças da região central de São Paulo.

Idealizado por "moradores" da Casa da Cultura Digital, imóvel na Barra Funda que reúne empresas ligadas à internet, o festival conta com 110 atividades gratuitas.

Às 21h30, sobre o Minhocão, depois de fechado ao trânsito, será gravado um documentário colaborativo.

"São Paulo está se tornando cada vez mais fechada, com clubes caros e poucas opções nas ruas", diz Lucas Pretti, um dos 500 idealizadores do projeto. "As ruas são para usar e para compartilhar. Sentimos que havia uma demanda por cultura livre."

O festival foi posto de pé por meio de um financiamento coletivo pela internet. Custou R$ 16 mil.

"Mas ainda precisamos contar com a colaboração de vizinhos, porque está bem apertado. Vamos tomar emprestado luz elétrica e banheiro", diz Pretti, aos risos.

Para ele, o projeto opõe duas visões sobre a cidade. Uma seria a da Prefeitura, que "limpa" o centro expulsando moradores de rua e desapropriando favelas.

A outra reivindica o "direito à cidade", ou seja, quer tomar as ruas e "dar um sentido a São Paulo".

A maior parte dos projetos inscritos -só ficaram de fora propostas com alto custo técnico- reflete a relação dos paulistanos com o centro.

Para coroar a "retomada" do centro, no próximo domingo, será montado um parque em cima do Minhocão, com grama artificial e piscina.

"Somos promotores culturais", diz Pretti. "Imagine se advogados e arquitetos decidissem fazer a mesma coisa pelo centro de São Paulo..."

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quinta-feira, 22 de março de 2012

Sexo e vergonha

Os que consideramos maníacos sexuais são apenas os que praticam mais sexo do que a gente

IMAGINE ALGUÉM que acaba sua noite com um sexo rápido e intenso, em pé, embaixo de uma ponte, e eis que, uma vez em casa, ele entra na internet e transa virtualmente com uma stripper de site on-line.

Não há gozo que lhe baste: sempre sobra a vontade de mais uma vez, mesmo que seja se masturbando com esforço. Outra noite, depois de ter brincado pesado com uma moça num bar, ele se pega com um cara no labirinto de uma boate gay: na procura por mais sexo, vale tudo.

Mas cada rosa tem seus espinhos. O disco rígido do nosso jovem está repleto de pornografia, até no computador do escritório -o que é arriscado. E, sobretudo, ele está aflito: a vergonha o leva a jogar fora (periodicamente) os apetrechos de sua sexualidade fantasiosa, e ele sente culpa de não conseguir ser o irmão, o amigo -e, quem sabe, o namorado- que ele talvez gostasse de ser.

Se esse alguém pedir ajuda a um terapeuta, alguns colegas tirarão da manga o "diagnóstico" de sexo-dependência ("sexual addiction") e proporão o programa em 12 passos (ensinado nas especializações em sexo-dependência), para que o indivíduo aprenda a se controlar e a renunciar, ao menos em parte, ao sexo, que teria se tornado, para ele, uma espécie de droga.

Mesmo sem acreditar nos 12 passos, outros colegas concordarão com o diagnóstico e simpatizarão com o "óbvio" sofrimento do "sexo-dependente" -afinal, eles imaginarão, essa prática endemoniada do sexo "deve", no mínimo, aviltar o indivíduo aos seus próprios olhos.

Outros colegas ainda (e eu com eles), ao receber o pedido de ajuda de um suposto sexo-dependente, reagiriam de maneira diferente: não se preocupariam nem com as fantasias, nem com as práticas sexuais do paciente, mas com a culpa e a vergonha que as acompanham.

Eu também anunciaria ao paciente que não sei (ninguém sabe) disciplinar o desejo sexual; só posso, se ele quiser, tentar disciplinar a culpa e a vergonha que azucrinam sua vida e estragam seus prazeres.

Quem viu "Shame" (vergonha), de Steve McQueen, percebeu que nosso paciente hipotético se parece com o protagonista do filme.

Em cartaz desde sexta passada, "Shame" é, ao mesmo tempo, ousado e careta. Ousado, pelo retrato da procura sexual do protagonista (muitos, sem dúvida, se reconhecerão), e careta, porque essa procura parece ser necessariamente doentia, culpada e vergonhosa.

Concordo com Cássio Starling ("Ilustrada" de 16/3): o filme é ótimo, mas discordo do destaque do artigo, segundo o qual "McQueen foge do moralismo ao abordar a compulsão por sexo". Quem enxerga o desejo sexual do outro como uma patologia é sempre moralista. Em matéria de sexo, patologizar é o jeito moderno de estigmatizar e policiar (conselho: fuja de parceiros que acham você "doente").

McQueen (na mesma "Ilustrada") declarou que o negócio dele é desafiar as pessoas. Ora, apresentar um obcecado por sexo como um doente que sofre de vergonha e culpa, isso não é desafio algum -ao contrário, é a confirmação de um lugar-comum.

Um lugar-comum confirmado por psiquiatria e psicologia? Nem isso.

Certo, desde o século retrasado, a psiquiatria e a psicologia são regularmente chamadas a substituir a religião, que (digamos assim) cansou de ser a grande ordenadora e controladora do comportamento humano. No caso, a ideia da "sexo-dependência" surgiu nos anos 1970 -provavelmente, como reação contra o interesse "excessivo" pelo sexo durante a dita liberação sexual dos anos 1960.

Mas, sentindo talvez o bafo do moralismo, muitos psiquiatras e a psicólogos receberam essa categoria diagnóstica com desconfiança. Quem a adotou e promoveu foram a imprensa e o grande público (e isso bastou para que surgisse uma pequena indústria de clínicas, programas universitários etc.). Mas por quê, então, esse sucesso popular da "sexo-dependência", na qual McQueen parece acreditar?

Apenas uma constatação: a associação de sexo com vergonha e culpa é um bordão cultural muito antigo, no qual somos convidados a acreditar por todo tipo de poder. A exigência de domesticar o desejo sexual parece ser, aos olhos de todos, um pré-requisito básico de qualquer ordem social.

Além disso, há a eterna inveja dos reprimidos: como dizia Alfred Kinsey, em regra, os que consideramos doentes e maníacos sexuais são apenas os que praticam mais sexo do que a gente.

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"Cine Camaleão - A Boca do Lixo" homenagea cineastas paulistanos dos anos 1960

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
É teatro ou cinema? A pergunta é o bordão irônico de "Cine Camaleão - A Boca do Lixo", do grupo Pessoal do Faroeste, que combina cenas ao vivo e filmadas para homenagear cineastas paulistanos dos anos 1960. O espetáculo contagia pelo bom humor.

Com a montagem, o diretor da Faroeste e dramaturgo Paulo Faria prossegue no projeto de resgatar histórias de São Paulo a partir de marcas do passado. Ocupa espaço na rua do Triunfo, em Santa Ifigênia, onde conviveram produtores do cinema marginal e de pornochanchadas.

Na trama rocambolesca de Faria, um diretor que ficara famoso com o estilo "faroeste feijoada", mas sobrevivia com a pornografia branda, aceita o convite de uma cantora pop para fazer um filme de sexo explícito.

Em subtrama, uma delegada do vizinho Dops (Departamento de Ordem Política e Social), que é atriz nas horas vagas, investiga o envolvimento da mulher do cineasta com um terrorista procurado.

As narrativas vão se cruzando com idas e vindas, em meio a uma cenografia repleta de ícones do brega.

Nas cenas ao vivo, o registro é de chanchada, mas com toque de distanciamento épico e cadência de musical, ainda que se cante pouco.

Esse tom cômico contrasta com o realismo do filme em paralelo, em que se desenvolve o roteiro de um faroeste urbano, baseado em crime de fato ocorrido na cidade. Aos poucos, os dois planos, mesmo em registros contrastados, se mesclam e cativam.

A surpresa é o desempenho de Mel Lisboa como Vanda Scarlatti, a cantora pop que quer explicitar suas partes íntimas nas telas. Segura e convincente, enfrenta com garra uma personagem quase alegórica e lhe dá contornos poéticos.

Roberto Leite (o cineasta Tony Reis) também se destaca em um elenco homogêneo, que se mantém entre a fé cênica e o deboche.

Em seu 15º ano de vida, a companhia Pessoal do Faroeste acerta a mão, concilia pesquisa séria e boa diversão e dá luz às trevas dos viciados em crack que perambulam em seu entorno.

CINE CAMALEÃO - A BOCA DO LIXO
QUANDO dom. e seg., às 19h, e sáb., às 21h; até 1º/4
ONDE Luz do Faroeste (r. do Triunfo, 301, tel. 0/xx/11/3362-883)
QUANTO contribuição voluntária
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO bom

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quarta-feira, 21 de março de 2012

centro de cultura social

Biblioteca Terra Livre e CCS convidam:

domingo, 25 de março as 18:00h
cinema & anarquia:
"Louise Michel, a rebelde"
de Sólveig Anspach (França, 2009)
Exibição do filme que narra o desterro na ilha de Nova Caledônia, da ativista e anarquista Louise Michel, logo após a sua participação da comuna de paris. Um retrato de um período relativamente curto de sua vida, mas que denota as suas tendências políticas, sua posição feminista e sua percepção para o anarquismo. o filme participou da 33ª mostra de cinema de São Paulo.

centro de cultura social:

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Domingo, 25/03/12 - Cinema & Anarquia:"Louise Michel, a Rebelde" no CCS


                                                                                             

Biblioteca Terra Livre e CCS convidam:

 

domingo, 25 de março as 18:00h

cinema & anarquia:

"Louise Michel, a rebelde"

de Sólveig Anspach (França, 2009)

Exibição do filme que narra o desterro na ilha de Nova Caledônia, da ativista e anarquista Louise Michel, logo após a sua participação da comuna de paris. Um retrato de um período relativamente curto de sua vida, mas que denota as suas tendências políticas, sua posição feminista e sua percepção para o anarquismo. o filme participou da 33ª mostra de cinema de São Paulo.

Lm1

 

Centro de Cultura Social

rua General Jardim, 253 sala 22

próximo ao mêtro República

entrada franca

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terça-feira, 13 de março de 2012

sexualidade feminina".

ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO

A comissão criada no Senado está na direção certa ao propor a flexibilização da legislação sobre aborto. Suas propostas são sensíveis e respeitam os direitos das mulheres.

A visão é da socióloga Eva Blay, professora da USP e histórica militante feminista.
Eleita suplente de FHC para o Senado nos anos 1990, ela se tornou senadora pelo PSDB e apresentou projeto descriminalizando o aborto, enfrentando a ira de religiosos.

Para ela, igrejas resistem ao tema por razões políticas. E acrescenta: "Essas igrejas preferem a morte das mulheres, uma forma de punir a sexualidade feminina".

Blay, 74, avalia que a reação conservadora à nomeação de Eleonora Menicucci revela que a nova ministra significa um passo à frente. Mas ainda é preciso acabar com os "valores patriarcais ainda em vigor no país", diz.

Folha - Qual sua opinião sobre a comissão do Senado que sugeriu flexibilizar a legislação sobre o aborto?
Eva Blay - Achei muito importante a iniciativa do Senado de criar uma comissão de juristas para tratar de várias questões, inclusive da interrupção da gravidez. As propostas são sensíveis e respeitam os direitos das mulheres.

Países como Portugal e Itália, onde a religião é forte, legalizaram o aborto. Por que esse tema é tão difícil no Brasil?
A resistência da parte de algumas igrejas tem no fundo um teor político. Isto é, intervém sobre o voto eleitoral que elas procuram conduzir. Essas igrejas preferem a morte das mulheres, uma forma de punir a sexualidade feminina.
Curioso que nada é dito sobre os homens, que, aliás, são tão responsáveis quanto as mulheres pela gravidez.

Como avalia o governo Dilma?
Eleger uma mulher no Brasil para a Presidência foi um grande passo. Mas não bastaria apenas ser mulher. Dilma está fazendo um excelente governo no campo dos direitos sexuais e reprodutivos.
Nomeou mulheres competentes para cargos ministeriais importantes, com isso traçou um novo paradigma no processo de igualdade de oportunidades para homens e mulheres.

A nomeação da ministra Eleonora Menicucci gerou reações entre os evangélicos.
Nomeá-la para a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres foi excelente. Eleonora reúne competência profissional, visão feminista, atestada em suas obras na universidade e nos movimentos sociais. A reação conservadora a Eleonora revela que ela significa um passo à frente.

Onde houve mais avanços nos direitos das mulheres?
Avançamos muito, com ou sem a ajuda dos partidos políticos. Nosso maior problema ainda é a violência contra a mulher de todas as idades.
Só vamos superar esse problema quando, juntamente com os homens, mudarmos os valores patriarcais ainda em vigor no país. Vale repetir que ninguém é dono de ninguém e quem ama não mata.

Deveria vigorar uma lei punindo o empregador que paga menos à mulher que exerce a mesma função que homem?
Punir é importante. Não se trata de lei, mas de acordar um princípio.

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ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO
A comissão criada no Senado está na direção certa ao propor a flexibilização da legislação sobre aborto. Suas propostas são sensíveis e respeitam os direitos das mulheres.
A visão é da socióloga Eva Blay, professora da USP e histórica militante feminista.
Eleita suplente de FHC para o Senado nos anos 1990, ela se tornou senadora pelo PSDB e apresentou projeto descriminalizando o aborto, enfrentando a ira de religiosos.
Para ela, igrejas resistem ao tema por razões políticas. E acrescenta: "Essas igrejas preferem a morte das mulheres, uma forma de punir a sexualidade feminina".
Blay, 74, avalia que a reação conservadora à nomeação de Eleonora Menicucci revela que a nova ministra significa um passo à frente. Mas ainda é preciso acabar com os "valores patriarcais ainda em vigor no país", diz.
Folha - Qual sua opinião sobre a comissão do Senado que sugeriu flexibilizar a legislação sobre o aborto?
Eva Blay - Achei muito importante a iniciativa do Senado de criar uma comissão de juristas para tratar de várias questões, inclusive da interrupção da gravidez. As propostas são sensíveis e respeitam os direitos das mulheres.
Países como Portugal e Itália, onde a religião é forte, legalizaram o aborto. Por que esse tema é tão difícil no Brasil?
A resistência da parte de algumas igrejas tem no fundo um teor político. Isto é, intervém sobre o voto eleitoral que elas procuram conduzir. Essas igrejas preferem a morte das mulheres, uma forma de punir a sexualidade feminina.
Curioso que nada é dito sobre os homens, que, aliás, são tão responsáveis quanto as mulheres pela gravidez.
Como avalia o governo Dilma?
Eleger uma mulher no Brasil para a Presidência foi um grande passo. Mas não bastaria apenas ser mulher. Dilma está fazendo um excelente governo no campo dos direitos sexuais e reprodutivos.
Nomeou mulheres competentes para cargos ministeriais importantes, com isso traçou um novo paradigma no processo de igualdade de oportunidades para homens e mulheres.
A nomeação da ministra Eleonora Menicucci gerou reações entre os evangélicos.
Nomeá-la para a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres foi excelente. Eleonora reúne competência profissional, visão feminista, atestada em suas obras na universidade e nos movimentos sociais. A reação conservadora a Eleonora revela que ela significa um passo à frente.
Onde houve mais avanços nos direitos das mulheres?
Avançamos muito, com ou sem a ajuda dos partidos políticos. Nosso maior problema ainda é a violência contra a mulher de todas as idades.
Só vamos superar esse problema quando, juntamente com os homens, mudarmos os valores patriarcais ainda em vigor no país. Vale repetir que ninguém é dono de ninguém e quem ama não mata.
Deveria vigorar uma lei punindo o empregador que paga menos à mulher que exerce a mesma função que homem?
Punir é importante. Não se trata de lei, mas de acordar um princípio.

segunda-feira, 12 de março de 2012

quinta-feira, 8 de março de 2012

Women's Day 08.03.2012 - Anarchafeminist international direct action with MAF!

                                                                       i@f

L'Internationale Anarchoféministe

The official pages of the Anarchafeminist International AFI - L'Internationale Anarchoféministe IAF - founded 1982

Manifeste Anarchoféministe - Anarchafeminist Manifesto

Press release 08.03.2002 about the history of the Anarcha-Feminist International,
the Anarcha-Feminist Manifesto and the 20 years anniversary of i@f 1982-2002

Press release 08.03.2005 "PAY EQUITY NOW"

Press release 08.03.2007 "Maternity"

Press release 08.03.2008 "THE HISTORY OF THE INTERNATIONAL WOMEN'S DAY"

08.03.2009 NO TO STATE-FEMINISM! The Anarchafeminst Manifesto is still valid!

Anarka-feministene (a brief historical note in Norwegian)

Poem for Women's Day 08.03.2010: Strike! Ad Women's Day 08.03.2010 there were two anarchafeminist international direct actions!

International Women's Day Monday 08.04.2011. Solidaric action for our struggling libertarian sisters in the Arab revolt!

Women's Day 08.03.2012 - Anarchafeminist international direct action with MAF!

Links


Manifeste Anarchoféministe

Anarchafeminist Manifesto

Translated from French (Bulletin C.R.I.F.A. No 44 mars -avril 1983 p. 12, and Le Monde Libertaire, no 479 - 1983 p. 9 )

All over the world most women have no rights whatsoever to decide upon important matters which concern their lives. Women suffer from oppressions of two kinds: 1) the general social oppression of the people, and 2) secondly sexism - oppression and discrimination because of their sex.

There are five main forms of oppression:

- Ideological oppression, brainwash by certain cultural traditions, religion, advertising and propaganda. Manipulation with concepts and play upon women's feelings and susceptibilities. Widespread patriarchal and authoritarian attitudes and capitalistic mentality in all areas.

- State oppression, hierarchical forms of organization with command lines downwards from the top in most interpersonal relations, also in the so-called private life .

- Economic exploitation and repression, as a consumer and a worker in the home and in low-salary women's jobs .

- Violence, under the auspices of the society as well as in the private sphere - indirectly when there is coercion because of lack of alternatives and direct physical violence.

- Lack of organization, tyranny of the structurelessness which pulverizes responsibility and creates weakness and inactivity.

These factors work together and contribute simultaneously to sustain each other in a vicious circle. There is no panacea to break the circle, but it isn't unbreakable.

Anarcha-feminism is a matter of consciousness. The consciousness which puts guardians off work. The principles of a liberating society thus stand perfectly clear to us.

Anarcha-feminism means women's independence and freedom on an equal footing with men. A social organization and a social life where no-one is superior or inferior to anyone and everybody is coordinate, women as well as men. This goes for all levels of social life, also the private sphere.

Anarcha-feminism implies that women themselves decide and take care of their own matters, individually in personal matters, and together with other women in matters which concern several women. In matters which concern both sexes essentially and concretely women and men shall decide on an equal footing.

Women must have self-decision over their own bodies, and all matters concerning contraception and childbirth are to be decided upon by women themselves.

It must be fought both individually and collectively against male domination, attitudes of ownership and control over women, against repressive laws and for women's economic and social autonomy and independence.

Crisis centers, day care centers, study and discussion groups, women's culture activities etc. must be established, and be run under womens's own direction.

The traditional patriarchal nuclear family should be replaced by free associations between men and women based on equal right to decide for both parts and with respect for the individual person's autonomy and integrity.

Sex-stereotyping in education, media and at the place of work must be abolished. Radical sharing of the work by the sexes in ordinary jobs, domestic life and education is a suitable mean.

The structure of working life must be radically changed, with more part-time work and flat organized cooperation at home as well as in society. The difference between men's work and women's work must be abolished. Nursing and taking care of the children must concern men just as much as women.

Female power and female prime ministers will neither lead the majority of women to their ends nor abolish oppression. Marxist and bourgeoisie feminists are misleading the fight for women's liberation. For most women it is not going to be any feminism without anarchism. In other words, anarcha-feminism does not stand for female power or female prime ministers, it stands for organization without power and without prime ministers.

The double oppression of women demands a double fight and double organizing: on the one hand in feminist federations, on the other hand in the organizations of anarchists. The anarcha-feminists form a junction in this double organizing.

A serious anarchism must also be feminist otherwise it is a question of patriarchal half-anarchism and not real anarchism. It is the task of the anarcha-feminists to secure the feminist feature in anarchism. There will be no anarchism without feminism.

An essential point in anarcha-feminism is that the changes must begin today, not tomorrow or after the revolution. The revolution shall be permanent. We must start today by seeing through the oppression in the daily life and do something to break the pattern here and now.

We must act autonomously, without delegating to any leaders the right to decide what we wish and what we shall do: we must make decisions all by ourselves in personal matters, together with other women in pure female matters, and together with the male fellows in common matters.

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The origin of the Anarchafeminist Manifesto.

8 March, International Women's Day, is a special relevant day to remember the Anarchafeminist Manifesto. The origin of the Anarchafeminist Manifesto is in Norway. The Anarchafeminist Manifesto is the summary of the feminist political program unanimously agreed upon by the third congress of the Anarchist Federation of Norway 1 - 7 of June 1982. The manifesto was first published in Norwegian in Folkebladet (IJA) no 1 1983 pp. 4-5. Soon after the Manifesto was published in CRIFA-Bulletin no 44 mars-avril 1983 in French (p. 12) and English (p. 13) language. Later on the French version was used as the basis for a translation to English that was published on the Internet, see above. The Manifesto is also translated  to other languages.

Anarchafeminst Greetings from Anna Quist, co-writer of the Anarchafeminst Manifesto.

German translation

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quarta-feira, 7 de março de 2012

LOUISE MICHEL

EVENTO SOBRE A LOUISE MICHEL – 17 de Março de 2012, Sábado, às 18 horas, na Cinemateca de Santos, Rua Xavier de Toledo, Número 42, Bairro Campo Grande, Santos/SP. Exibição do Filme: “Louise Michel, A Rebelde” (França, 2009, 90 minutos, Legendado) + Debate sobre a vida de Louise Michel, do protagonismo feminino em frente às lutas populares & memória dos 141 anos do início da Comuna de Paris. Entrada Gratuita. EDUCANDO PARA LIBERTAR !!! anarquismo...

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EVENTO SOBRE A LOUISE MICHEL – 17 de Março de 2012, Sábado, às 18 horas, na Cinemateca de Santos, Rua Xavier de Toledo, Número 42, Bairro Campo Grande, Santos/SP. Exibição do Filme: “Louise Michel, A Rebelde” (França, 2009, 90 minutos, Legendado) + Debate sobre a vida de Louise Michel, do protagonismo feminino em frente às lutas populares & memória dos 141 anos do início da Comuna de Paris. Entrada Gratuita. EDUCANDO PARA LIBERTAR !!!anarquismo...

opressão e sexualidade feminina...

Sessão 'Cine Chat' do Canal Brasil apresenta o longa 'A Erva do Rato'

Canal Brasil, 22h, 16 anos. Estreia hoje na programação do canal "A Erva do Rato", dirigido por Júlio Bressane.

O filme é livremente inspirado nos contos "A Causa Secreta" (1885) e "Um Esqueleto" (1875), de Machado de Assis (1839-1908).

Os atores Selton Mello e Alessandra Negrini são os protagonistas da história, cuja direção de fotografia fica por conta de Walter Carvalho.

O cineasta acompanha a exibição do longa-metragem e comenta o filme com os espectadores por meio de um chat no site do Canal Brasil (canalbrasil.globo.com).

Após a exibição, ele abre sua webcam para responder a perguntas dos usuários em um bate-papo ao vivo pela internet.

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Beleza é fundamental?

Peça sobre Zezé Macedo é reflexão sobre quem "trabalha com a alma e é julgada pela aparência"

Foto Divulgação
Elenco da peça "A Vingança do Espelho", que chega a SP
Elenco da peça "A Vingança do Espelho", que chega a SP

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO

A feiura, diz Umberto Eco, não é só mais divertida, mas mais interessante do que a beleza. O raciocínio está bem ilustrado em "A Vingança do Espelho: A História de Zezé Macedo", que estreia na sexta, em São Paulo.

A peça conta a vida da atriz cujo nome, para boa parte das pessoas, traz à mente uma única imagem, se tanto: a da senhora baixinha e feiosa, de voz esganiçada, fazendo a puritana dona Bela ("Só pensa naquilo") na "Escolinha do Professor Raimundo".

E, no entanto, Maria José de Macedo (1916-1999) teve uma vasta e popular, ainda que hoje esquecida, carreira no cinema, na TV e no rádio, além de ter publicado poesia.

Marcada por sua aparência e sua voz, usou-as como atributos para se firmar como atriz cômica. Na vida privada, se dilacerou -inclusive fisicamente, por meio de inúmeras cirurgias plásticas- por conta da aparência.

"A Vingança do Espelho" mostra esses dilemas e alegrias numa narrativa metalinguística, criada pelo autor Flávio Marinho: os atores representam um grupo teatral que prepara um espetáculo sobre Zezé Macedo.

O público assiste às discussões sobre como montar a peça, com os atores apresentando e debatendo a vida e a carreira de Zezé e encenando, de forma não cronológica, alguns momentos marcantes -a fase na Atlântida, a estreia no rádio com o apoio de Dias Gomes, a "Escolinha".

"É uma peça muito simples, é em cima do ator, do espaço e da relação com o público. Como fala o Amir [Haddad, diretor], não tem truque, é só magia", diz Betty Gofman, que interpreta a atriz a quem cabe o papel de Zezé Macedo na montagem.

"Em momento algum eu tentei imitar a Zezé. Vi poucos filmes, pouca coisa dela. O que a gente fez foi tentar entender o que se passava na alma daquela mulher, tentar sentir o que ela sentia."

HOMENAGEM AO TEATRO

Aproveitando o fato de ser uma peça sobre a montagem de uma peça, "A Vingança do Espelho" discute a própria profissão teatral: os baixos salários, a escalação de atores com "presença midiática, para tirar a companhia do buraco", o favorecimento dos amigos, tudo vira tema.

"É uma grande reflexão sobre a fragilidade e a força do nosso ofício, e sobre a dificuldade de uma pessoa que trabalha com a alma e é julgada pela aparência", diz o diretor Amir Haddad.

"A TV começa a fazer tudo em cima de um certo tipo de imagem, você fica prisioneiro daquela imagem e não escapa mais, como a Zezé nunca se livrou."

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Federica Montseny Mañé; Barcelona, 1905 - Toulouse, 1994.

ANARQUISMO E FEMINISMO: as mulheres anarquistas em São
Paulo na Primeira República (1889 -1930).

mulheres anarquistas, brasileiras.

Maria Lacerda de Moura - Uma Anarquista Individualista Brasileira

"Sou "indesejável", estou com os individualistas livres, os que sonham mais alto, uma sociedade onde haja pão para todas as bocas, onde se aproveitem todas as energias humanas, onde se possa cantar um hino à alegria de viver na expansão de todas as forças interiores, num sentido mais alto – para uma limitação cada vez mais ampla da sociedade sobre o indivíduo."

Maria Lacerda de Moura

Um dos temas da história do movimento operário e, particularmente, do anarquismo, que até hoje tem sido pouco pesquisado é o da presença feminina. Na história do anarquismo, e do socialismo no seu conjunto, a atuação das mulheres, mesmo não sendo rara, é significativamente menor do que a masculina. Existem razões de sobra que explicam esse fato. Em primeiro lugar, na composição do operariado que viria a gerar esses movimentos, a percentagem de mulheres foi, ao longo de muitas décadas, muito inferior à dos homens. Um fato ainda mais evidente nos círculos da intelectualidade independente que esteve associada ao nascimento das idéias socialistas. Por outro lado, a cultura familiar reacionária, ou revestida de valores conservadores, estava bem presente no mundo operário do século XIX e primeira metade do século XX, fazendo com que as mulheres acabassem, mesmo nos movimentos sociais, adotando - ou sendo empurradas em alguns casos - para uma posição subalterna, ligada a velhos preconceitos associados a idéias como "fragilidade feminina", papel "maternal" das mulheres ou da sua "passividade".

É certo que em muitos casos era tão-só a histórica divisão de papéis sociais que relegava as mulheres para uma função doméstica que contrariava, ou dificultava, a sua militância social. Talvez por isso, entre as mulheres que mais se destacaram no movimento anarquista, exista um número importante de personagens femininas que optaram por uma vida pessoal independente, onde o casamento e uma relação familiar mais tradicional, ou até a maternidade, foram recusadas em nome da liberdade e da autonomia.
Evidente que o papel das companheiras e cúmplices - sentimentais e de idéias - dos anarquistas, e dos militantes operários em geral, foi de tal forma relevante que constituiu, por si mesmo, uma destacada presença feminina no movimento. Ainda que um feminismo pseudo-radical, incapaz de situar histórica e culturalmente as relações de gênero, veja nessa relação ou em aspectos tradicionais das relações dentro das famílias dos militantes operários e anarquistas a prova irrefutável da manutenção de valores machistas e de sujeição das mulheres nos movimentos anti-burgueses.
A cultura operária anti-capitalista sempre procurou valorizar os direitos intrínsecos e específicos das mulheres. Era também comum, na imprensa e literatura libertárias, a crítica das instituições familiares, do casamento burguês e a defesa do amor livre3 , tematização que alguns pensadores individualistas chegaram a dar um relevo especial. Foi o caso de Emile Armand4 e Han Ryner5 . Mulheres libertárias, como Emma Goldman6 , também deram uma particular atenção ao tema.
Mesmo sendo assim, há que se reconhecer, a presença efetiva, marcante e autônoma das mulheres, no movimento operário e no anarquismo, foi limitada. O que não impediu que em alguns setores operários, particularmente no têxtil, tecelãs e costureiras tivessem um papel determinante na organização e nas lutas sindicais, a partir das quais se destacaram importantes militantes libertárias e socialistas que contribuíram para o anarco-sindicalismo e para o sindicalismo revolucionário internacional. É no contexto da época e das sociedades onde desenvolveram sua militância que poderemos explicar as diferenças de presença, de importância ou de destaque entre mulheres e homens no movimento operário anarquista ou no movimento socialista em geral. Por essa mesma razão, não é de estranhar a ausência de um número mais significativo de teóricas do anarquismo e do socialismo, principalmente no século XIX.
Apesar de tudo isso, nomes como Mary Wollstonecraft7 , companheira de William Godwin8 e precursora do feminismo, Flora Tristán9 , Louise Michel10 , Emma Goldman, Voltarine de Cleyre11 , Lucy Parsons12 , Tereza Mané13 , Federica Monteseny14 , May Picqueray15 , Giovanna Caleffi16 e Luce Fabri17 , deixaram profundas marcas nos movimentos sociais e no pensamento libertário de seus respectivos países. Em Portugal, alguns nomes se destacam: Miquelina Sardinha18 , Virgínia Dantas e Luisa Franco Adão. No Brasil, Edgar Rodrigues, na sua obra Os Companheiros, que reúne em cinco volumes uma ampla pesquisa biográfica de militantes anarquistas, lista o nome de 52 mulheres que tiveram especial relevância no movimento social, no período que vai do final do século XIX à metade do século XX.
Entre estas mulheres, Maria Lacerda de Moura merece um lugar à parte, não só pela sua personalidade combativa, pela sua múltipla atividade de escritora e conferencista, como pelo destaque que chegou a ter, não só no Brasil, como em outros países da América do Sul, tendo os seus textos divulgados em Portugal, na França e, principalmente, na Espanha.
Nascida em Minas Gerais a 16 de maio de 1887, desde jovem se interessou pelo pensamento social e pelas idéias anticlericais. Formou-se na Escola Normal de Barbacena, em 1904, começando logo a lecionar nessa mesma escola. Inicia então um trabalho junto às mulheres da região, incentivando um mutirão de construção de casas populares para a população carente da cidade. Participou da fundação da Liga Contra o Analfabetismo. Como educadora, adotou a pedagogia libertária de Francisco Ferrer Guardia19 . Após se mudar para São Paulo, começou a dar aulas particulares e a colaborar na imprensa operária e anarquista brasileira e internacional. No jornal A Plebe (SP) escreveu principalmente sobre pedagogia e educação. Seus artigos foram também publicados por jornais independentes e progressistas, como O Combate, de São Paulo e O Ceará (1928), de Fortaleza, de onde se extraiu o texto Feminismo? Caridade?, bem como em diferentes jornais operários e anarquistas de todo o Brasil.
Em Fevereiro de 1923, lançou a revista Renascença, publicação cultural divulgada no movimento anarquista e entre setores progressistas e livre-pensadores. A importância desta militante pode ser avaliada, entre outros, pelo fato de que, em 1928, jovens estudantes e trabalhadores paulistas terem invadido o jornal pró-fascista italiano Il Piccolo, como resposta a um artigo que caluniava violentamente a pensadora libertária. Na mesma época, Rachel de Queiroz20 polemizou acaloradamente, nas páginas d’ O Ceará, com um jornalista cearense que atacou Maria Lacerda.
Ativa conferencista, tratava de temas como educação, direitos da mulher, amor livre, combate ao fascismo e antimilitarismo, tornando-se conhecida não só no Brasil, mas também no Uruguai e Argentina, onde esteve convidada por grupos anarquistas e sindicatos locais. Entre 1928 e 1937, a ativista libertária viveu numa comunidade em Guararema (SP), no período mais intenso da sua atividade intelectual, tendo descrito esse período como uma época em que esteve "livre de escolas, livre de igrejas, livre de dogmas, livre de academias, livre de muletas, livre de prejuízos governamentais, religiosos e sociais".
Maria Lacerda de Moura pode ser considerada uma das pioneiras do feminismo no Brasil e uma das poucas ativistas que se envolveu diretamente com o movimento operário e sindical. Entre os seus numerosos livros destacam-se: Em torno da educação (1918); A mulher moderna e o seu papel na sociedade atual (1923); Amai e não vos multipliqueis (1932); Han Ryner e o amor plural (1928) e Fascismo: filho dileto da Igreja e do Capital (s/d).
O texto de Maria Lacerda de Moura que transcrevemos de seguida foi publicado no jornal independente O Ceará (1928), de Fortaleza, a pedido da então jovem escritora Rachel de Queiroz, que se consagraria como uma das grandes romancistas brasileiras contemporâneas. Esse texto expressa o pensamento de Maria Lacerda de Moura sobre o feminismo e sua visão anarco-individualista. Uma filosofia libertária bastante influenciada por Han Ryner, um pensador libertário original que se destacou em França como ativista anti-militarista, anti-clerical e defensor do amor livre. Outra influência notória no texto é a de Emile Armand.
É certo que ele não representa todo o pensamento da anarquista brasileira. Como todo militante, com larga atividade literária, passou por diferentes fases e sua reflexão abordou temas tão diversos comoa guerra, o malthusianismo e a pedagogia libertária.
Polêmica na literatura e na militância, Maria Lacerda de Moura passou pela Maçonaria e pela Fraternidade Rosa Cruz, com quem rompeu denunciando-a como agente do nazismo. Atravessou algumas fases de maior envolvimento social e outras de isolamento, umas de otimismo e outras de declarado pessimismo. E, se no fim da vida, permanecia num certo pessimismo, isso deve-se certamente às divergências e rupturas que, no fim da década de 20, confrontavam anarquistas e comunistas ao mesmo tempo em que acontecia a ameaçadora ascensão do fascismo. No entanto, quando após a fundação do Partido Comunista dirigentes desse partido, fizeram várias tentativas para aliciá-la, a pensadora libertária recusou-se a abandonar sua visão de mundo, mantendo até ao fim da vida o seu anarquismo individualista21 .
Maria Lacerda de Moura é praticamente desconhecida no Brasil, onde um certo feminismo parece querer ocultar aquela que seria uma das primeiras e mais importantes ativistas das causas das mulheres, mas que nunca reconheceu no Estado, no Direito e no acesso profissional burguês a sua causa. Na verdade, isso acontece porque, antes de tudo, via generosamente a luta feminista como parte integrante do combate social compartilhado igualmente por homens e mulheres engajados na luta pela eliminação de toda exploração, injustiça e preconceito. Talvez por isso mesmo, ela seja ainda um símbolo incômodo para toda a sociedade conservadora, até para o atual conservadorismo feminista, mero arrivismo social de classe média em busca do seu lugar ao sol no Estado e no capitalismo, tal comoo foi para as sufragistas da classe média e das elites do seu tempo.A militante anarquista morreu em 1945, no Rio de Janeiro.
Notas:

1 Historiadora e professora da Universidade Federal do Ceará.
2 Doutor em nada, militante anarquista e colaborador da imprensa libertária
3 Giovanni Rossi (1856-1943), idealizador da Colônia Cecília fundada em 1891 por anarquistas italianos no sul do Brasil, chegou a escrever o livro Un Episodio d’amore nella Colonia Cecilia, onde analisa a sua experiência pessoal de um amor plural e as dificuldades de superação das relações e moral convencional numa comunidade libertária.
4 Emile Armand (1872-1963).Um dos mais importantes militantes anarquistas individualistas franceses. Autor de L’ Iniciation Individualiste Anarchiste e Anarquismo e Individualismo.
5 Han Ryner (1861-1938). Pensador e escritor anarquista individualista francês nascido na Argélia. Pacifista, anticlerical e defensor do amor livre. Autor de O Pequeno Manual Individualista e de O Quinto Evangelho, exerceu grande influência sobre Maria Lacerda Moura, mais visível no seu livro Han Ryner e o Amor Plural, de 1933.
6 Emma Goldman (1868-1940). Militante e pensadora anarquista de origem russa, emigrou para os EUA em 1886. Em 1919 foi expulsa para a Rússia, mas logo teve de abandonar o país por discordar do que denominava a evolução autoritária da Revolução Soviética. Viveu em vários países e teve um importante papel no apoio à Revolução Espanhola de 1936. Viria a falecer no Canadá.
7 Mary Wollstonecraft (1759-1797). Ativista libertária inglesa, companheira de William Godwin e autora do livro precursor do feminismo Vindicatin of the Rights of Woman, editado em 1792.
8 William Godwin (1756-1835). Considerado um dos primeiros pensadores anarquistas modernos foi o autor do livro Investigação Acerca da Justiça Política, editado em 1873.
9 Flora Tristán (1803-1844). Libertária, de pais peruanos, nascida em Paris. Preocupada com o problema social, engajou-se nas lutas operárias e escreveu, em 1843, a União Operária, uma das primeiras propostas de organização internacional dos trabalhadores.
10 Louise Michel (1833-1905). Professora e militante anarquista francesa. Participou da Comuna de Paris e acompanhou de forma ativa o crescimento do movimento operário e do anarquismo francês.
11 Voltairine de Cleyre (1866-1912). Uma das mais ativas agitadoras e oradoras anarquistas americanas, colaborou na revista Mother Earth e destacou-se por tratar dos temas referentes às mulheres e ao amor livre.
12 Lucy Parsons (1853-1942). Militante operária e anarquista americana. Companheira de Albert Parsons, um dos mártires de Chicago, continuou sendo uma ativa militante operária até ao final da sua vida, dando destaque aos temas da mulher e do racismo.
13 Teresa Mané (1865-1939). Militante anarquista e professora, ficou conhecida pelo pseudônimo de Soledad Gustavo, foi companheira de Federico Urales e mãe de Federica Montseny, que constituíram uma das famílias mais ativas no movimento anarquista espanhol.
14 Federica Montseny (1905-1994). Uma das mais conhecidas militantes anarquistas espanholas. Militante da CNT, durante a Revolução de 1936 integrou o governo republicano como ministra da saúde, por decisão majoritária, embora polêmica do movimento anarquista.
15 May Picqueray (1898-1983). Anarquista individualista e ativa pacifista francesa.
16 Giovanna Caleffi (1897-1962). Militante anarquista italiana, companheira de Camilo Berneri, assassinado pelos estalinistas em Barcelona. Continuou sua militância em Itália até morrer. Sua filha Maria Louise Berneri, foi também militante anarquista.
17 Luce Fabri (1908-). Ativa militante anarquista uruguaia ainda viva, filha de Luigi Fabri (1877-1935) um dos mais ativos anarquistas italianos deste século.
18 Miquelina Sardinha (1902-1966). Professora e militante anarquista portuguesa, companheira de Francisco Quintal (1898-1987) ativo militante anarco-sindicalista.
19 Francisco Ferrer y Guardia (1859-1909). Pedagogo e militante anarquista espanhol que desenvolveu os princípios da Escola Moderna baseada no ensino misto, laico, crítico e científico. O seu método e filosofia de educação espalharam-se por diversos países entre os quais o Brasil. O movimento operário, principalmente o anarco-sindicalista, criou escolas nos sindicatos baseadas no pensamento de Ferrer. Franscisco Ferrer viria a ser fuzilado, em 1909, em razão das suas idéias e da sua militância social.
20 Rachel de Queiroz (1910-). Romancista e cronista brasileira nascida no Ceará. Autora dos romances: O Quinze; João Miguel; Caminho das Pedras e Memorial de Maria Moura, entre outros. Esteve próxima às posições trotskistas e hoje gosta de se definir como "uma anarquista doce".
21 Embora no livro de Míriam Leite, Outra face do feminismo, se tente provar a aproximação de Maria Lacerda de Moura do Partido Comunista, Otávio Brandão, dirigente comunista da época, e ex-anarquista, desmente na sua autobiografia, Combates e Batalhas (São Paulo: Alfa-Omega, 1978), que a sua tentativa tenha resultado.


Bibliografia consultada:

- Combates e Batalhas, Otávio Brandão. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1978.
- Os Companheiros (vol 1 a 5), Edgar Rodrigues. Florianópolis: Editora Insular, 1997-1998.
- Os Libertários, Edgar Rodrigues. Petrópolis: Editora Vozes, 1988.
- Outra Face do Feminismo: Maria Lacerda de Moura, Míriam Lifchtitz Moureira Leite. São Paulo: Editora Ática, 1984.
- Jornal O Ceará, Fortaleza, 1928.

Adelaide Gonçalves(1) e Jorge Silva(2)

Revista Utopia # 9

quinta-feira, 1 de março de 2012

Governamentalidade e Anarqueologia em Michel Foucault

Gouvernementalité et Anarchéologie dans Michel Foucault
Nildo Avelino
Revista Brasileira de Ciências Sociais 
RESUMO

Este artigo aborda as noções foucaultianas de governamentalidade e anarqueologia, enfatizando os impactos que provocaram nas reflexões do "último Foucault". Em um primeiro momento, aborda-se o deslocamento da analítica do poder de Foucault, situando sua importância nos estudos em governamentalidade e sugerindo implicações possíveis que a anarqueologia estabelece com o pensamento de Proudhon. Em seguida, discute-se a maneira pela qual a anarqueologia descreve uma genealogia das formas modernas da obediência ao problematizar a experiência da sexualidade.

Palavras-chave: Poder; Governamentalidade; Anarqueologia; Subjetividade; Verdade.

ABSTRACT

This article discusses the Foucauldian notions of governmentality and anarchaeology emphasizing the impacts they cause in the reflections of the "final Foucault." At first, it approaches the displacement of the analytical power of Foucault, situating its importance in studies in governmentality and suggesting possible implications that anarchaeology down with the thought of Proudhon. Then it discusses the way anarchaeology describes a genealogy of modern forms of obedience by problematizing the experience of sexuality.

Keywords: Power; Governmentality; Anarcheology; Subjectivity; Trust.

RESUMÉS

Cet article décrit les notions foucaldiennes de gouvernementalité et anarchéologie en mettant l'accent sur leurs impacts dans la réflexion du "dernier Foucault". Initialement, nous abordons le déplacement de l'analytique du pouvoir de Foucault, en situant son importance dans les études de la gouvernementalité et en suggérant des implications possibles que l'anarchéologie établit avec la pensée de Proudhon. Ensuite, nous discutons la façon dont l'anarchéologie décrit une généalogie des formes modernes de l'obéissance à partir de la problématisation de l'expérience de la sexualité.

Mots-clés: Pouvoir; Gouvernementalité; Anarchéologie; Subjectivité; Vérité.

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Revista Brasileira de Ciências Sociais - Governmentality and Anarchaeology in Michel Foucault

Revista Brasileira de Ciências Sociais - Governmentality and Anarchaeology in Michel Foucault: "Este artigo aborda as noções foucaultianas de governamentalidade e anarqueologia, enfatizando os impactos que provocaram nas reflexões do "último Foucault". Em um primeiro momento, aborda-se o deslocamento da analítica do poder de Foucault, situando sua importância nos estudos em governamentalidade e sugerindo implicações possíveis que a anarqueologia estabelece com o pensamento de Proudhon. Em seguida, discute-se a maneira pela qual a anarqueologia descreve uma genealogia das formas modernas da obediência ao problematizar a experiência da sexualidade."

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centro de cultura social

centro de cultura social:

2ª edição revista e ampliada: "Do governo dos vivos", de Michel Foucault (188 páginas, 2011).

30,00

Qual é o núcleo duro do curso aqui transcrito e comentado? Qual foi o fio que conduziu Foucault ao longo das suas aulas? A resposta não é difícil: foi a história genealógica e a problematização da obediência, da conformação ao governamento (como condução das condutas), na nossa tradição ocidental.

Tenho certeza de que esta edição do curso Do governo dos vivos virá preencher brilhantemente uma lacuna na bibliografia foucaultiana em língua portuguesa. Faço votos de que todos aqueles que se interessam pelos estudos foucaultianos encontrem, neste livro, novos elementos para problematizarem o presente e, por aí, se sintam desafiados e encorajados a pensarem de outros modos.

Alfredo Veiga-Neto

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Folha de S.Paulo - Ilustrada - Miriam Leitão narra história de desaparecido durante a ditadura - 01/03/2012

Folha de S.Paulo - Ilustrada - Miriam Leitão narra história de desaparecido durante a ditadura - 01/03/2012:

'via Blog this'Miriam Leitão narra história de desaparecido durante a ditadura

Especial aborda sumiço de Rubens Paiva, político preso em 1971

MATHEUS MAGENTA
DE SÃO PAULO

Em janeiro de 1971, o ex-deputado Rubens Paiva, cujo mandato cassado pela ditadura militar (1964-85), foi preso em sua casa no Rio por agentes dos órgãos de segurança. Foi a última vez que sua família o viu.

O fato é tema de "Uma História Inacabada", especial apresentado pela jornalista Miriam Leitão que vai ao ar hoje na Globo News. Paiva é um dos 183 desaparecidos na ditadura identificados pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.

A ideia do programa surgiu em dezembro passado, após a criação da Comissão da Verdade, grupo governamental que investigará e narrará violações a direitos humanos entre 1946 e 1988.

"Era um bom gancho para não deixar os desaparecidos como entes abstratos. Foram pessoas de carne e osso, que pertenceram às suas famílias e nunca mais foram encontradas", afirma a jornalista.

Foram entrevistados familiares, testemunhas, militares e autoridades da época e atuais, como a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos).

"Há relatos muito precisos sobre a tortura que ele sofreu na prisão", diz Leitão.

NA TV
Uma História Inacabada
Especial sobre Rubens Paiva
QUANDO hoje, 21h05, Globo News
CLASSIFICAÇÃO livre

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