quinta-feira, 22 de março de 2012

"Cine Camaleão - A Boca do Lixo" homenagea cineastas paulistanos dos anos 1960

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
É teatro ou cinema? A pergunta é o bordão irônico de "Cine Camaleão - A Boca do Lixo", do grupo Pessoal do Faroeste, que combina cenas ao vivo e filmadas para homenagear cineastas paulistanos dos anos 1960. O espetáculo contagia pelo bom humor.

Com a montagem, o diretor da Faroeste e dramaturgo Paulo Faria prossegue no projeto de resgatar histórias de São Paulo a partir de marcas do passado. Ocupa espaço na rua do Triunfo, em Santa Ifigênia, onde conviveram produtores do cinema marginal e de pornochanchadas.

Na trama rocambolesca de Faria, um diretor que ficara famoso com o estilo "faroeste feijoada", mas sobrevivia com a pornografia branda, aceita o convite de uma cantora pop para fazer um filme de sexo explícito.

Em subtrama, uma delegada do vizinho Dops (Departamento de Ordem Política e Social), que é atriz nas horas vagas, investiga o envolvimento da mulher do cineasta com um terrorista procurado.

As narrativas vão se cruzando com idas e vindas, em meio a uma cenografia repleta de ícones do brega.

Nas cenas ao vivo, o registro é de chanchada, mas com toque de distanciamento épico e cadência de musical, ainda que se cante pouco.

Esse tom cômico contrasta com o realismo do filme em paralelo, em que se desenvolve o roteiro de um faroeste urbano, baseado em crime de fato ocorrido na cidade. Aos poucos, os dois planos, mesmo em registros contrastados, se mesclam e cativam.

A surpresa é o desempenho de Mel Lisboa como Vanda Scarlatti, a cantora pop que quer explicitar suas partes íntimas nas telas. Segura e convincente, enfrenta com garra uma personagem quase alegórica e lhe dá contornos poéticos.

Roberto Leite (o cineasta Tony Reis) também se destaca em um elenco homogêneo, que se mantém entre a fé cênica e o deboche.

Em seu 15º ano de vida, a companhia Pessoal do Faroeste acerta a mão, concilia pesquisa séria e boa diversão e dá luz às trevas dos viciados em crack que perambulam em seu entorno.

CINE CAMALEÃO - A BOCA DO LIXO
QUANDO dom. e seg., às 19h, e sáb., às 21h; até 1º/4
ONDE Luz do Faroeste (r. do Triunfo, 301, tel. 0/xx/11/3362-883)
QUANTO contribuição voluntária
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO bom

Posted via email from franciscoripo

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