Mulher que narrou assassinato critica PM Testemunha diz que divulgação de gravação, com sua voz original, da ligação que fez ao 190 a põe em riscoEla relatou homicídio atribuído a dois PMs; "Corregedoria prometeu me preservar e eu acreditei", afirma agora DO "AGORA"
DE SÃO PAULOA mulher que ligou para a polícia para denunciar, em tempo real, um assassinato praticado por dois PMs em um cemitério de Ferraz de Vasconcelos (Grande São Paulo) diz sentir-se traída pela Polícia Militar paulista.
Para ela, os detalhes revelados pela corporação, como a divulgação do telefonema que fez ao 190 com sua voz original, podem levar à sua identificação. "Nem para misturar a voz!", reclamou.
"A Corregedoria prometeu me preservar e eu acreditei", disse ela à reportagem ontem, por telefone.
Na ligação ao 190, ela dizia ter presenciado o assassinato de um rapaz, identificado depois como Dileone Lacerda Aquino, 27, suspeito de ter roubado uma van em 12 de março. Agora, não quer mais falar sobre o assunto. "NADA A ACRESCENTAR"
"Eu não vou ser leviana de colocar em risco pessoas que não têm nada a ver [com o caso]. Eu não tenho mais nada a acrescentar. A fita já é suficiente", afirmou a mulher.
E continuou: "Eu não acredito mais. Uma coisa que aconteceu em março. Falaram que iriam me preservar. A prova de que isso não é verdade é que eu estou falando com você neste momento".
"O que a gente [referindo-se também à família] quer é que o processo corra. Se eu fiz alguma coisa, é o que era para ser feito. Agora eu não vou falar mais nada."
Essa mulher, cuja coragem foi elogiada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), é a principal testemunha do caso, mas ainda não foi ouvida pelo Ministério Público Estadual. Os acusados são os soldados Ailton Vital da Silva, 37, e Filipi Daniel da Silva, 28, do 29º Batalhão da PM.
Por intermédio de seu advogado, eles negam o crime. Dizem que socorreram e levaram a vítima ao hospital, sem passar pelo cemitério. Os policiais estão presos no presídio da PM.
A denúncia contra os dois foi oferecida em 21 de março pela promotora Fernanda Bergamaschi Moretti, que requisitou, entre outras medidas, diligências para identificar e ouvir a mulher. OUTRO LADO
Procurado ontem, o comando da PM não comentou o vazamento do áudio da ligação feita para o Copom (Centro de Operações da Polícia Militar), por meio do 190, nem explicou por que distribuiu gravações com a voz original da testemunha.
A corporação também não informou se foi aberto procedimento para apurar o autor da divulgação do áudio.(JOSMAR JOZINO e ROGÉRIO PAGNAN)