quarta-feira, 5 de setembro de 2012

edson passetti

uma libertária: nota sobre uma aula do
curso “do governo dos vivos” de michel
foucault

Em Nascimento da biopolítica, de 1978-1979, curso
anterior a  Do governo dos vivos, Michel Foucault
surpreendia ao mostrar a genealogia do neoliberalismo
europeu e estadunidense pelas escolas de Frieburg e
Chicago. Situava como o Estado de direito e as punições
habitam a construção do trabalhador como capital humano;
problematizava o retorno liberal para conter o Estado, o
nazismo e o comunismo, reiterando sua pretensão de
governar a vida.
Na pesquisa de Foucault, a noção de governo dos vivos,
chega para ultrapassar a relação saber-poder, para romper
a relação com o fora e reconhecer a força do governo em
cada um, em alguns, muitos e quase todos. Não se trata
apenas de soberania, disciplina e biopolítica mas, também,
de controles que atravessam subjetividades e
redirecionam as resistências não mais para o confronto,
mas para a inclusão.
Foucault sabia do poder de governo dos que não o
suportavam e que, por não poder matá-lo, pretendiam isolá-
lo. Esta conduta permanece sem retoques na amedrontada
academia e entre resistentes embolorados que o vêem
como nocivo às utopias igualitárias. Foucault era um
audaz guerreiro contra o transcendente, onde este se
instalasse. Por ser insuportável, tentaram pacificá-lo na
sociologia da anomia ou torná-lo palatável no gueto gay.
Arruinando conservadores embandeirados, arriscou e
mergulhou no cuidado de si pela história do presente, e
na atualidade, expandiu a relação aristocrática: uma
arte dionisíaca ultrapassou o objeto para fazer-se em
gente como estética da existência.
Foucault não se acanhou em romper consigo e com
as implicações do saber-poder em favor da relação
governo-verdade.
1
 Preparou nova reviravolta para a ética
e aproximou-se da anarqueologia. O anarquismo, que
muitas vezes divagara e escapara com as palavraslâmina, picando o estado civil, e ao mesmo tempo
mostrando o fim da relação público-privado, aparece agora
como referência. Como falar do governo dos vivos, de
neoliberalismo, de ética sem passar pelos anarquistas?
Os liberais se calaram como monjas, os marxistas como
Antonio Negri não abrem mão de suas oxigenadoras
reflexões e no libertarismo o Nu-Sol é insistente. Nildo
Avelino ouviu o curso no Collège de France; transcreveu
a aula inaugural e um brevíssimo trecho da seguinte.
Neste curso aparece o adjetivo  alêthourgês, agir
francamente, que no derradeiro seminário em Berkley
vira o substantivo parrhèsiastes, aquele que não teme
pronunciar a verdade diante de um declarado superior.
Não dá pra isolar Foucault, nem os anarquistas.

Posted via email from franciscoripo

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