LUCAS FERRAZ
DE BRASÍLIA
Trêmulo, em um portunhol sofrível e visivelmente abalado, o frade
dominicano Frei Tito narra sua saga pelos porões da ditadura
brasileira. "Me torturaram por três dias seguidos. No terceiro, um
capitão de nome Albernaz [Benoni de Arruda Albernaz] me torturou por
20 horas. Recebi fortes pancadas, choques elétricos em todo corpo." Ele prossegue: "No quarto dia, sabendo que voltaria para a tortura,
tentei a morte cortando o pulso, numa tentativa de pôr fim à tortura". O relato, premonitório, é um dos depoimentos de presos políticos
reunidos em "Brasil - O Relato de uma Tortura", documentário produzido
para a TV americana há 40 anos para denunciar as violações aos
direitos humanos no regime militar brasileiro (1964-1985). Depois de 40 anos, ele será exibido pela primeira vez na televisão
brasileira hoje, à 0h15, no Canal Brasil. Produzido pelos cineastas americanos Haskell Wexler e Saul Landau
(Wexler foi diretor de fotografia de "Um Estranho no Ninho"), o
documentário retrata o "Grupo dos 70", presos políticos levados para o
Chile em troca da libertação do embaixador suíço no Brasil Giovanni
Enrico Bucher, o último diplomata sequestrado pela esquerda armada, no
final de 1970. No Chile, Wexler e Landau produziam um documentário sobre o então
presidente Salvador Allende. Souberam dos brasileiros e gravaram as
entrevistas em janeiro de 1971. Os próprios brasileiros encenam as práticas a que os presos foram
submetidos. Eram muitas: pau de arara, afogamentos, choques,
palmatórias e "pau de estrada", que consiste em amarrar os braços do
preso em um carro e as pernas em outro, cada um indo em uma direção. A encenação do "pau de estrada" (veja cenas ao lado) foi feita pelo
chileno Jorge Mueller, assistente de câmera. Ironicamente, dois anos
depois, quando Augusto Pinochet depôs Allende, ele foi preso,
torturado e, consta, jogado ao mar. Mueller integra a lista dos
desaparecidos políticos chilenos. Dos 70 brasileiros, 16 já morreram -alguns tragicamente, ao retornar
para a luta armada no Brasil. Três deles se mataram. Maria Auxiliadora
Lara Barcelos, que sofreu torturas sexuais, enforcamento e simulação
de fuzilamento, se jogou nos trilhos do metrô de Berlim em 1976. Gustavo Buarque Schiller pulou do prédio em que vivia, em Copacabana, em 1985. Frei Tito se matou enforcado no interior da França, em 1974. No
depoimento, ele resume aqueles anos: "A única coisa democrática no
Brasil é a tortura". NA TV
Brasil - O Relato de uma Tortura
Estreia de documentário
QUANDO hoje, 0h15, no Canal Brasil
CLASSIFICAÇÃO não informada
DE BRASÍLIA
Trêmulo, em um portunhol sofrível e visivelmente abalado, o frade
dominicano Frei Tito narra sua saga pelos porões da ditadura
brasileira. "Me torturaram por três dias seguidos. No terceiro, um
capitão de nome Albernaz [Benoni de Arruda Albernaz] me torturou por
20 horas. Recebi fortes pancadas, choques elétricos em todo corpo." Ele prossegue: "No quarto dia, sabendo que voltaria para a tortura,
tentei a morte cortando o pulso, numa tentativa de pôr fim à tortura". O relato, premonitório, é um dos depoimentos de presos políticos
reunidos em "Brasil - O Relato de uma Tortura", documentário produzido
para a TV americana há 40 anos para denunciar as violações aos
direitos humanos no regime militar brasileiro (1964-1985). Depois de 40 anos, ele será exibido pela primeira vez na televisão
brasileira hoje, à 0h15, no Canal Brasil. Produzido pelos cineastas americanos Haskell Wexler e Saul Landau
(Wexler foi diretor de fotografia de "Um Estranho no Ninho"), o
documentário retrata o "Grupo dos 70", presos políticos levados para o
Chile em troca da libertação do embaixador suíço no Brasil Giovanni
Enrico Bucher, o último diplomata sequestrado pela esquerda armada, no
final de 1970. No Chile, Wexler e Landau produziam um documentário sobre o então
presidente Salvador Allende. Souberam dos brasileiros e gravaram as
entrevistas em janeiro de 1971. Os próprios brasileiros encenam as práticas a que os presos foram
submetidos. Eram muitas: pau de arara, afogamentos, choques,
palmatórias e "pau de estrada", que consiste em amarrar os braços do
preso em um carro e as pernas em outro, cada um indo em uma direção. A encenação do "pau de estrada" (veja cenas ao lado) foi feita pelo
chileno Jorge Mueller, assistente de câmera. Ironicamente, dois anos
depois, quando Augusto Pinochet depôs Allende, ele foi preso,
torturado e, consta, jogado ao mar. Mueller integra a lista dos
desaparecidos políticos chilenos. Dos 70 brasileiros, 16 já morreram -alguns tragicamente, ao retornar
para a luta armada no Brasil. Três deles se mataram. Maria Auxiliadora
Lara Barcelos, que sofreu torturas sexuais, enforcamento e simulação
de fuzilamento, se jogou nos trilhos do metrô de Berlim em 1976. Gustavo Buarque Schiller pulou do prédio em que vivia, em Copacabana, em 1985. Frei Tito se matou enforcado no interior da França, em 1974. No
depoimento, ele resume aqueles anos: "A única coisa democrática no
Brasil é a tortura". NA TV
Brasil - O Relato de uma Tortura
Estreia de documentário
QUANDO hoje, 0h15, no Canal Brasil
CLASSIFICAÇÃO não informada