DE SÃO PAULO
Eunice Ribeiro Durham, professora aposentada de antropologia da USP e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da universidade, é contrária a qualquer tipo de cotas.
Folha - A sra. é favorável às cotas nas universidades?
Eunice Durham - Sou inteiramente contrária às cotas de qualquer tipo, especialmente as raciais. Elas constituem uma medida extremamente prejudicial porque institucionalizam a raça. Isso é inconstitucional. É preciso realmente que a gente estabeleça políticas compensatórias.
Quais?
Esse processo todo vem da escola primária. Não há nenhum programa na formação de professores para combater o preconceito em sala de aula ou para alunos negros do colegial. Querem resolver o problema depois que ele está absolutamente instalado. E o nível de renda da população é um fator mais forte do que a etnia.
Mas a sra. também é contra as cotas sociais...
Sou a favor que se conserte o problema em vez de começar a fazer caridade. As universidades, especialmente as públicas, deviam fazer para os jovens pobres, cuja maioria é mulata, cursos pré-universitários. Os alunos de boa renda desde criança têm acompanhamento fora da escola. Quem não tem dinheiro não pode fazer isso. Então a universidade tem que abrir um curso pré-vestibular no qual se compensem deficiências de formação de modo que tenham melhores condições de competir no vestibular.
Não se pode compensar um péssimo ensino público colocando cota em vez de fazer um esforço para que o problema seja compensado, como os alunos de melhor renda fazem. Isso seria importante para a universidade e envolveria melhor distribuição étnica.