terça-feira, 28 de junho de 2011

Cinema novo

Cinemateca Brasileira ganha depósito na Vila Leopoldina para parte do acervo, em espaço que abrigará também museu e oficina

Marcelo Justo/Folhapress
Latas de filmes chegam ao novo prédio da Cinemateca Brasileira 

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

Nas próximas semanas, alguns dos 200 mil rolos que ocupam a sede da Cinemateca Brasileira, na Vila Clementino, vão percorrer a cidade.
Em carros refrigerados, sairão da zona sul rumo à zona oeste. Chegando ao galpão da Vila Leopoldina, sua nova casa, os filmes vão dormir numa antecâmara, para não sofrer choques térmicos.
Uma vez adaptados, os rolos migrarão para as prateleiras novinhas que ocupam duas câmeras refrigeradas a 5ºC. Hoje, eles estão armazenados sob 12ºC ou 15ºC.
"Nossos depósitos estavam chegando ao limite", diz Carlos Magalhães, diretor da Cinemateca Brasileira. "Com o novo espaço, cresce em 25% a capacidade de armazenamento. Além da expansão natural e necessária, vai permitir a separação do acervo."
E, se vista sob a perspectiva histórica, a inauguração desse espaço, prevista para daqui a três semanas, tem ainda mais significado.
É que a história da Cinemateca, nascida como um clube de cinema, em 1940, sempre marcada por tropeços, refletiu, durante muito tempo, o descaso do Brasil com sua memória cultural.
A falta de sedes -o espaço da Vila Clementino só foi inaugurado em 1992 - e a dificuldade para implantar uma política contínua chegaram a ser vistas, por um dos seus criadores, Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977), como sina irreversível.
"Quando chegamos aqui, só corríamos atrás do prejuízo, salvando filmes que estavam desaparecendo", diz Maria Dora Mourão, presidente da Associação da Amigos da Cinemateca. "Agora, finalmente, conseguimos pensar em preservação."
Além de funcionar como reserva técnica, o novo espaço vai abrigar, futuramente, um museu do cinema.
Em três meses, será aberta uma oficina de manutenção de equipamentos que o mercado já não usa, mas que, para a cinemateca, são essenciais, como a moviola.
"Os velhos técnicos vão formar novos técnicos", diz Magalhães. Tudo o que for reformado vai compor o museu destinado a contar a evolução técnica da atividade.
Fruto de uma costura política que envolveu o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e a prefeitura de São Paulo, a ocupação do galpão que, antes, abrigava uma fábrica de bombas hidráulicas, chama a atenção pelo arrojo arquitetônico e pela dimensões.
Um problema: está numa região martirizada por alagamentos. "Por precaução, os filmes vão ficar no mezanino", avisa Magalhães.

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