Eleição cria onda antigay em universidade Dirigentes de Centro Acadêmico de faculdade federal médica do RS são
atacados com e-mails enviados por colega Texto diz: "Está na hora de unirmos forças e (...) fazer o que nos
couber para dar fim -pouco a pouco- nesta peste"
LAURA CAPRIGLIONE
DE SÃO PAULO Irado com a eleição de dois colegas homossexuais para coordenadores
gerais do Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, um estudante do 2º ano
conclamou os colegas por e-mail:
"Está na hora de unirmos forças e, veladamente, fazer o que nos couber
para dar fim -pouco a pouco- nesta peste. No momento da consulta
[médica oferecida pela faculdade] de uma bicha, ou recuse-se (pelos
meios cabíveis em lei), ou trate-os "erroneamente'!!!", dizia o
e-mail.
O e-mail apócrifo circulou entre os alunos da faculdade, integrantes
de uma comunidade fechada, à qual só se tem acesso mediante o uso de
senha. Cada turma tem uma senha diferente -é por isso que se sabe que
o apologista do tratamento "errôneo" para gays é do 2º ano.
Foi no dia 24 de novembro às 17h45 que a Comissão Eleitoral anunciou a
vitória da Chapa 2 sobre a Chapa 1 (112 votos a 81). Dos cinco membros
da chapa vitoriosa, dois são rapazes abertamente homossexuais: Igor
Rabuske Araujo, 21, e Alex Vicente Spadini,19.
Já às 18h57 do mesmo dia, um estudante comentava a vitória da chapa 2:
"AAAAAiiiii! Chapa 2! Agora, teremos clericot, serviço de manicure,
serviço de pedicure e muuuuita purpurina."
Logo, um estudante do 5º ano entrou na conversa. Defendeu o clericot,
uma espécie de sangria (vinho, frutas e bastante gelo). "Todo mundo
gosta de clericot", escreveu para pontuar que não se trata de bebida
gay.
A conversa, à qual a reportagem da Folha teve acesso, subiu de tom. O
coordenador eleito Igor Araujo defendeu o direito básico "de não ser
agredido gratuitamente por gente mal resolvida".
Logo, entrou e-mail de outro aluno do 5º ano, xingando e comentando
detalhes anatômicos em termos impublicáveis.
Mas foi à 1h18, madrugada do dia 25 de novembro, que se publicou o
e-mail mais raivoso. "Numa falsa busca por igualdade e respeito, esses
lambedores de p. alheios tentam em vão nos convencer de que é
inevitável o futuro rosa, amparado pelo (...) preconceito às avessas
contra aqueles que bravamente se levantam contra a ação gayzista."
E conclamou o tratamento "errôneo" em homossexuais.
"É intolerável que, em dias atuais, universitários tenham um
posicionamento tão retrógrado e ameacem colocar em risco a segurança e
a saúde de homossexuais. Isso demonstra, também, que é urgente a
aprovação de uma legislação federal que coíba a prática homofóbica",
afirmou Gustavo Bernardes, coordenador geral do Grupo Somos de Porto
Alegre.
Os estudantes atacados avisaram a direção da faculdade. Colegas
enviaram à reitoria cópia dos e-mails homofóbicos e solicitaram
investigação sobre o computador de onde se originaram. Também pediram
a abertura de inquérito e eventual expulsão dos agressores.
Não houve pronunciamento da hierarquia universitária até ontem. Alex e
Igor dizem não ter ideia sobre qual ou quais alunos respondem pela
autoria dos e-mails preconceituosos.
As hostilidades contra os dois estudantes aconteceram menos de duas
semanas depois que um grupo de homossexuais foi atacado a golpes de
lâmpadas fluorescentes na avenida Paulista.
atacados com e-mails enviados por colega Texto diz: "Está na hora de unirmos forças e (...) fazer o que nos
couber para dar fim -pouco a pouco- nesta peste"
LAURA CAPRIGLIONE
DE SÃO PAULO Irado com a eleição de dois colegas homossexuais para coordenadores
gerais do Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, um estudante do 2º ano
conclamou os colegas por e-mail:
"Está na hora de unirmos forças e, veladamente, fazer o que nos couber
para dar fim -pouco a pouco- nesta peste. No momento da consulta
[médica oferecida pela faculdade] de uma bicha, ou recuse-se (pelos
meios cabíveis em lei), ou trate-os "erroneamente'!!!", dizia o
e-mail.
O e-mail apócrifo circulou entre os alunos da faculdade, integrantes
de uma comunidade fechada, à qual só se tem acesso mediante o uso de
senha. Cada turma tem uma senha diferente -é por isso que se sabe que
o apologista do tratamento "errôneo" para gays é do 2º ano.
Foi no dia 24 de novembro às 17h45 que a Comissão Eleitoral anunciou a
vitória da Chapa 2 sobre a Chapa 1 (112 votos a 81). Dos cinco membros
da chapa vitoriosa, dois são rapazes abertamente homossexuais: Igor
Rabuske Araujo, 21, e Alex Vicente Spadini,19.
Já às 18h57 do mesmo dia, um estudante comentava a vitória da chapa 2:
"AAAAAiiiii! Chapa 2! Agora, teremos clericot, serviço de manicure,
serviço de pedicure e muuuuita purpurina."
Logo, um estudante do 5º ano entrou na conversa. Defendeu o clericot,
uma espécie de sangria (vinho, frutas e bastante gelo). "Todo mundo
gosta de clericot", escreveu para pontuar que não se trata de bebida
gay.
A conversa, à qual a reportagem da Folha teve acesso, subiu de tom. O
coordenador eleito Igor Araujo defendeu o direito básico "de não ser
agredido gratuitamente por gente mal resolvida".
Logo, entrou e-mail de outro aluno do 5º ano, xingando e comentando
detalhes anatômicos em termos impublicáveis.
Mas foi à 1h18, madrugada do dia 25 de novembro, que se publicou o
e-mail mais raivoso. "Numa falsa busca por igualdade e respeito, esses
lambedores de p. alheios tentam em vão nos convencer de que é
inevitável o futuro rosa, amparado pelo (...) preconceito às avessas
contra aqueles que bravamente se levantam contra a ação gayzista."
E conclamou o tratamento "errôneo" em homossexuais.
"É intolerável que, em dias atuais, universitários tenham um
posicionamento tão retrógrado e ameacem colocar em risco a segurança e
a saúde de homossexuais. Isso demonstra, também, que é urgente a
aprovação de uma legislação federal que coíba a prática homofóbica",
afirmou Gustavo Bernardes, coordenador geral do Grupo Somos de Porto
Alegre.
Os estudantes atacados avisaram a direção da faculdade. Colegas
enviaram à reitoria cópia dos e-mails homofóbicos e solicitaram
investigação sobre o computador de onde se originaram. Também pediram
a abertura de inquérito e eventual expulsão dos agressores.
Não houve pronunciamento da hierarquia universitária até ontem. Alex e
Igor dizem não ter ideia sobre qual ou quais alunos respondem pela
autoria dos e-mails preconceituosos.
As hostilidades contra os dois estudantes aconteceram menos de duas
semanas depois que um grupo de homossexuais foi atacado a golpes de
lâmpadas fluorescentes na avenida Paulista.