Longa usa a lógica da guerra civil para discutir questão da segurança pública
ESPECIAL PARA A FOLHA O diretor de "Tropa de Elite 2", José Padilha, é alguém que costuma dizer não gostar de filmes "cabeça".
No entanto, seu filme não quer ser apenas mais um thriller de aventura. Através das ações do coronel Nascimento, "Tropa de Elite 2" gostaria de dar sua versão a respeito da irredutibilidade do problema que mais atemoriza a classe média brasileira: a insegurança.
Nesta sequência, Nascimento vive um confronto intestino com um "intelectual de esquerda"; militante dos direitos humanos que, com seu discurso ingênuo, parece existir apenas para atrapalhar as ações duras, porém necessárias, do Bope. MOLA DO CRIME
Um destes confrontos acaba tendo muita repercussão na mídia, o que leva o governo a deslocar Nascimento para uma subsecretaria de Segurança. Lá, ele descobre a verdadeira mola que alimenta o crime: a corrupção da polícia e seus vínculos orgânicos com a corrupção do poder político.
Nesta nova luta, ele poderá, ao final, reencontrar seu inimigo, tecer uma aliança com o intelectual de esquerda, agora deputado estadual. Aliança feita em nome da luta contra a corrupção do "sistema". Tudo termina em uma CPI contra as milícias.
Assim, depois de ter sido acusado pela imprensa internacional de fazer um filme "fascista", o diretor de "Tropa de Elite 2" parece querer se redimir mostrando ter consciência clara dos problemas representados pela polícia. No entanto, tal consciência apenas mascara o verdadeiro núcleo de sua "visão da sociedade brasileira". TERRITÓRIO DE GUERRA
As ações violentas, as torturas sistemáticas contra "vagabundos", a compreensão das favelas como território de guerra, as balas perdidas, a humilhação cotidiana contra uma população que vê o Estado e seu aparato policial como inimigos: nada disso explicaria por que a polícia que mais mata no mundo nunca conseguiu vencer a luta contra o crime.
Na verdade, se o método truculento ainda não deu certo, isto seria resultado exclusivo da corrupção generalizada. Tanto é assim que, em dado momento do filme, ficamos sabendo que Nascimento conseguiu, com seu Bope reforçado por helicópteros, limpar uma favela do tráfico em uma operação que mais parece um video game onde cada tiro certo é um ponto.
Tudo seria perfeito se, depois, policiais corruptos não tivessem se aproveitado da nova situação para extorquir dinheiro da população.
Desta forma, neste país onde a polícia tortura mais do que na época do regime militar, a ideia de compreender problemas de segurança pública a partir da lógica de guerra civil parece ter se naturalizado.
Neste país, os intelectuais de esquerda ganhariam mais complacência dos produtores de blockbusters se abandonassem a "ladainha" sobre direitos humanos, escolhessem o lado da classe média assustada e abraçassem a causa monocórdia da luta moralizante contra a corrupção estatal.
Ao menos, eles serviriam para apagar a culpa pelo nosso desejo de violência.
Trama legitima violência policial e trata defesa dos direitos humanos como ladainha ingênua
VLADIMIR SAFATLEESPECIAL PARA A FOLHA O diretor de "Tropa de Elite 2", José Padilha, é alguém que costuma dizer não gostar de filmes "cabeça".
No entanto, seu filme não quer ser apenas mais um thriller de aventura. Através das ações do coronel Nascimento, "Tropa de Elite 2" gostaria de dar sua versão a respeito da irredutibilidade do problema que mais atemoriza a classe média brasileira: a insegurança.
Nesta sequência, Nascimento vive um confronto intestino com um "intelectual de esquerda"; militante dos direitos humanos que, com seu discurso ingênuo, parece existir apenas para atrapalhar as ações duras, porém necessárias, do Bope. MOLA DO CRIME
Um destes confrontos acaba tendo muita repercussão na mídia, o que leva o governo a deslocar Nascimento para uma subsecretaria de Segurança. Lá, ele descobre a verdadeira mola que alimenta o crime: a corrupção da polícia e seus vínculos orgânicos com a corrupção do poder político.
Nesta nova luta, ele poderá, ao final, reencontrar seu inimigo, tecer uma aliança com o intelectual de esquerda, agora deputado estadual. Aliança feita em nome da luta contra a corrupção do "sistema". Tudo termina em uma CPI contra as milícias.
Assim, depois de ter sido acusado pela imprensa internacional de fazer um filme "fascista", o diretor de "Tropa de Elite 2" parece querer se redimir mostrando ter consciência clara dos problemas representados pela polícia. No entanto, tal consciência apenas mascara o verdadeiro núcleo de sua "visão da sociedade brasileira". TERRITÓRIO DE GUERRA
As ações violentas, as torturas sistemáticas contra "vagabundos", a compreensão das favelas como território de guerra, as balas perdidas, a humilhação cotidiana contra uma população que vê o Estado e seu aparato policial como inimigos: nada disso explicaria por que a polícia que mais mata no mundo nunca conseguiu vencer a luta contra o crime.
Na verdade, se o método truculento ainda não deu certo, isto seria resultado exclusivo da corrupção generalizada. Tanto é assim que, em dado momento do filme, ficamos sabendo que Nascimento conseguiu, com seu Bope reforçado por helicópteros, limpar uma favela do tráfico em uma operação que mais parece um video game onde cada tiro certo é um ponto.
Tudo seria perfeito se, depois, policiais corruptos não tivessem se aproveitado da nova situação para extorquir dinheiro da população.
Desta forma, neste país onde a polícia tortura mais do que na época do regime militar, a ideia de compreender problemas de segurança pública a partir da lógica de guerra civil parece ter se naturalizado.
Neste país, os intelectuais de esquerda ganhariam mais complacência dos produtores de blockbusters se abandonassem a "ladainha" sobre direitos humanos, escolhessem o lado da classe média assustada e abraçassem a causa monocórdia da luta moralizante contra a corrupção estatal.
Ao menos, eles serviriam para apagar a culpa pelo nosso desejo de violência.