quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

“Foucault e o anarquismo”

As Oficinas Libertárias do Centro de Cultura Social

Iniciadas em 2008, as oficinas libertárias do CCS promovem uma outra modalidade de saber que se pretende distinto da aula ou da palestra. Sua dinâmica está  mais concernida com o grupo de estudos que traz a marca do autodidatismo. Mas isto não é tudo. Oficina é um lugar onde se elabora, se fabrica, constrói ou conserta coisas que não são simplesmente nem da ordem da lógica nem do conceito, mas que indicam uma habilidade, uma aptidão ou astúcia, um saber-fazer. Na oficina o saber não se pretende causal, mas se quer relacional na medida em que propõe efetuar-se materialmente produzindo uma transformação em seu interlocutor. O saber, seja ele a física do globo ou os fenômenos da consciência, só interessam para a oficina se relacionados à transformação do sujeito, como saberes ético-políticos.
O “método” praticado pela oficina porta duas dimensões importantes: 1. o diálogo. Na oficina não há professor, cada um é ator e espectador no teatro do saber. Por isso as oficinas serão quanto possível dialógicas. Espera-se que o diálogo possa fazer valer a vontade de saber individual, permitindo quebrar as hierarquias instauradas pela ordem do saber. Como é próprio das oficinas, cada um é portador de capacidades e saberes desiguais. Ao contrário de instaurar uma relação hierárquica, a desigualdade deve dar lugar a relações igualitárias diferenciadas. 2. o prazer. As oficinas funcionam como grupo, associação, ou comunidade de estudo. A Academia de Atenas era famosa não somente pelo estudo da filosofia, mas por incitar um estilo de vida filosófico; o jardim de Epicuro se dedicava à filosofia e ao cultivo de hortaliças. A oficina se propõe como grupo de convivência libertária para fazer do processo de conhecimento uma atividade prazerosa, um hedonismo do saber.
As Oficinas Libertárias do Centro de Cultura Social estão abertas a todos que desejem compartilhar das práticas acima descritas.
Oficina Libertária 2010:
“Foucault e o anarquismo”

    Coordenação de Nildo Avelino*
    O objetivo da oficina é propor um estudo sobre as relações entre a reflexão política e filosófica de Michel Foucault e o pensamento anarquista de Pierre-Joseph Proudhon e Errico Malatesta.
    A pertinência em estudar “Focault e o anarquismo” está no fato de que, desde os anos 1990, tornara-se evidente que os efeitos na política e na filosofia produzidos pela crítica foucaultiana do Sujeito e do Poder afetaram enormemente não apenas as Ciências Humanas, mas também, e de uma maneira extraordinária, os modos através dos quais eram percebidas as tradições políticas liberal, marxista e anarquista. A força inovadora do “efeito Foucault” em relação anarquismo pode ser vista pelos trabalhos de Todd May e Salvo Vaccaro, que constituem o início do que se tornou em nossos dias um vasto campo discursivo sobre um problema importante no debate anarquista: o chamado pós-anarquismo ou neo-anarquismo.
    Todavia, apenas recentemente nota-se um empenho, sobretudo na Europa, em compreender complexivamente o alcance e os desdobramentos que resultam dessa problemática para o anarquismo. E é com este intuito que se lança mais esta oficina libertária: “Foucault e o anarquismo” busca apreender a força inovadora desta interseção de potências no pensar libertário.
Proposta de estudos:

I) 14/04, quarta-feira as 19h:

Apresentação:
uma cartografia da problemática “Foucault e o anarquismo”
    Indicações para leitura:
BEY, Hakim. “Anarquia do Pós-Anarquismo”. Disponível em: http://pt-br.protopia.wikia.com/wiki/Anarquia_do_Pós-Anarquismo.
MAY, Todd. “Pós-estruturalismo e anarquismo”. Margem, São Paulo, nº 5, 1996, p. 171-185.
VACCARO, Salvo. “Foucault e o anarquismo”. Margem, São Paulo, nº 5, 1996. p. 158-170.

II) 05/05, quarta-feira as 19h:

    Proudhon e Foucault, por uma “filosofia relacional”**

III) 26/05, quarta-feira as 19h:

    Errico Malatesta e Michel Foucault sobre o fascismo**

IV) 16/06, quarta-feira as 19h:

“Anarquismo e governamentalidade” ou uma concepção analítica do poder**

V) 26/06, sábado as 16h:

“Anarqueologia dos saberes”: apresentação e lançamento do livro Do governo dos vivos. Curso no Collège de France, 1979-1980 (excertos), de Michel Foucault (Editora Achiamé, Rio de Janeiro, trad. de Nildo Avelino).
 
(*) Nildo Avelino é Doutor em Ciência Política pela PUC-SP e Pós-Doutorando em História Política pelo IFCH/UNICAMP. É pesquisador na área de Teoria Política sobre os temas: anarquismo, governamentalidade, anarqueologia. Participou, em setembro de 2009, do seminário internacional “Anarchismo, post-anarchismo e nuovi movimenti antiautoritari nella società contemporanea” realizado em Pisa pela Biblioteca Franco Serantini no âmbito da XIV Conférence Internationale della Fédération Internationale des Centres d'Études et de Documentation Libertaires (FICEDL), bem como do workshop “Anarchism” coordenado por Ruth Kinna durante a 6th Annual Conference in Political Theory da Manchester Metropolitan University. É militante do CCS desde 1991.
    (**) as indicações de leitura serão fornecidas na 1ª sessão.

Centro de Cultura Social de São Paulo


O Centro de Cultura Social de São Paulo é uma associação fundada em 14 de janeiro de 1933 como remanescente das entidades culturais criadas pelo vigoroso movimento sindical existente na Primeira República. Quando o fluxo imigratório se acentuou a partir dos últimos anos do século XIX, os trabalhadores que aqui chegavam, ao organizarem seus sindicatos para lutar por melhores condições de vida, criaram também seus centros de cultura.

Cada associação, união, liga ou sindicato operário procurava criar seu centro, ateneu ou grêmio cultural, transportando para o Brasil a prática do movimento operário europeu com sua preocupação permanente com a educação e a cultura. Criou-se uma vasta rede de entidades culturais entre os trabalhadores, com suas bibliotecas, publicações, grupos teatrais etc. Pouca coisa resistiu às ditaduras militares, quando as bibliotecas, os periódicos, programas e documentos foram destruídos. Só o zelo e uma resistência surda possibilitou alguns militantes salvar o suficiente para testemunhar a imensa obra desenvolvida. Exemplos disso está em algumas entidades das quais o Centro guarda o registro em seus arquivos: Grupo Filodramático Social (1905), Grupo Filodramático do Centro de Estudos Sociais do Brás (1906), Grupo Libertário do Brás (1910), Grupo Aurora Libertas (1911), Circulo de Estudos Sociais Francisco Ferrer (1912), Círculo Filodramático Libertário (1914), Centro Feminino Jovens Idealistas (1915), Associação Universidade Popular de Cultura Racionalista (1915), Centro de Estudos Sociais Juventude do Futuro (1920), Grupo Nova Era (1922), Biblioteca Social A Inovadora (1924). Todas de São Paulo. Essas entidades se espalharam pelo Brasil, com predominância em São Paulo e Rio de Janeiro.

A partir de 1930, com o refluxo do movimento sindical em razão do Estado Novo, um grupo de trabalhadores decidem fundar uma entidade que atendesse aos seus objetivos culturais e educativos. Inventam o Centro, associação sem fins lucrativos mantida com os recursos de seus associados e destinada ao estudo e debate dos problemas sociais com o objetivo de “estimular, apoiar e promover nos meios populares, principalmente entre os trabalhadores, onde as possibilidades de cultura são limitadas por toda sorte de empecilhos, o estudo de uma nova ordem de coisas baseadas em princípios de justiça e de equidades sociais, que facultem a cada indivíduo e à coletividade, o gozo de uma situação de liberdade e bem-estar, resultado do esforço comum e a que todos fazem jus” (Estatutos).

Desde sua fundação o Centro de Cultura Social promove intensa atividade cultural. Já em janeiro de 1933 anunciava a conferência da escritora argentina Concepción Fernandez, com o título "A Música como Fator de Aproximação dos Povos"; no dia 23 de julho do mesmo ano anunciava grande ato comemorativo do 1º aniversário da morte do pensador italiano Errico Malatesta. Além das conferências, cursos, exposições, montagens teatrais com grupo próprio etc., o Centro de Cultura Social participou de campanhas políticas de envergadura, como a luta anti-integralista, juntamente com o jornal "A Plebe" e a Federação Operária de São Paulo. Promoveu comícios, publicou panfletos e em sua sede se reuniram os trabalhadores que confrontaram os integralistas em outubro de 1934. As lutas dos trabalhadores sempre tiveram o Centro de Cultura Social presente.

Em 1937, em conseqüência do golpe de Getúlio Vargas, o Centro foi fechado, reabrindo em 2 de junho de 1945 e novamente sustou as atividades no dia 21 de abril de 1969, logo após ser promulgado o Ato Institucional n.º 5, embora houvesse resistido à ditadura militar desde março de 1964 até aquela data, com a criação do Laboratório de Ensaio, a mais fecunda experiência do Centro de Cultura Social no campo das artes. Não sendo possível prosseguir, só voltou plenamente à vida ativa após a abertura democrática em 1985, realizando atividades culturais até hoje.

LITERATURA

CENTRO DE CULTURA SOCIAL  Programação 1º/2010

(des)encontros anárquicos de literatura
A literatura só  vale a pena como experiência que faz o pensamento pensar como atividade digestiva: modificando e afetando singularmente os corpos. Os (des)encontros anárquicos de literatura pretendem ser experiências de pensamento, alimento para aplacar a sofreguidão de palavras. Leia o livro e traga uma bebida.
 
    20/03, sábado as 20h:
    “A hora da estrela” de Clarice Lispector. 
    17/04, sábado as 20h:
    “O Estrangeiro” de Albert Camus. 
    15/05, sábado as 20h:
    “Lavoura Arcaica” de Raduan Nassar. 
    12/06, sábado as 20h:
“O Processo” de Franz Kafka.  

Centro de Cultura Social

Rua Gal. Jardim nº 253 – sala 22 – Vila Buarque (metrô República)

www.ccssp.org

CINEMA

CENTRO DE CULTURA SOCIAL
Programação 1º/2010 

 

cinema & anarquia
Experiência do tempo incessantemente renovado, o cinema faz ver o imperceptível num movimento que atualiza imagens de subversão e subversões da imagem. A proposta de Cinema & Anarquia é articular a imagem-movimento do cinema com o pensamento em movimento da literatura. 
    21/03, domingo as 19h:
    “A hora da estrela” dir. de Suzana Amaral (Brasil, 1985). 
18/04, domingo as 19h:
“A batalha de Argel” dir. de Gillo Pontecorvo (França/Itália/Argélia, 1966). Ou, se for possível: “O estrangeiro” dir. de Luchino Visconti (Itália, 1967). 
    16/05, domingo as 19h:
    “Lavoura Arcaica” dir. de Luiz Fernando Carvalho (Brasil, 2001). 
13/06, domingo as 19h:
“O Processo” dir. de Orson Welles (Alemanha/França/Itália, 1962).
 
Centro de Cultura Social
Rua Gal. Jardim nº 253 – sala 22 – Vila Buarque (metrô República)

AMIGOS...